Aviso de Privacidade Esse site usa cookies para melhorar sua experiência de navegação. A ferramenta Google Analytics é utilizada para coletar informações estatísticas sobre visitantes, e pode compartilhar estas informações com terceiros. Ao continuar a utilizar nosso website, você concorda com nossa política de uso e privacidade. Estou de Acordo

Na Mídia - Hospital de Bonsucesso suspende atendimento a novos pacientes com câncer

Globo.com /

24/05/2017


Seis meses depois da primeira vistoria, a Comissão de Fiscalização do Cremerj voltou ao Serviço de Oncologia do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) nesta segunda-feira e encontrou um quadro ainda pior. O número de oncologistas, que já era insuficiente, foi reduzido ainda mais e, atualmente, são cinco médicos a menos. O estoque de quimioterápicos também segue com uma lista extensa de remédios em falta. A medida tomada pela direção da unidade diante desse cenário foi interromper o atendimento a novos pacientes com câncer. A precariedade do serviço foi mostrada pelo EXTRA, em março, na série de reportagens “Um Estado terminal”.

— Encontramos o caso de uma paciente que aguarda desde novembro para iniciar o tratamento quimioterápico, que está em falta. Isso tudo é um verdadeiro absurdo. Após seis meses, encontramos hoje aqui um setor que não recebe mais novos pacientes e continua com vários medicamentos zerados em seu estoque — relatou o presidente do Cremerj, Nelson Nahon. 

A fiscalização foi acompanhada pelo defensor público federal Daniel Macedo, que denunciou a situação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, e exigiu a contratação imediata de pelo menos três médicos. Após 180 dias, apenas um foi contratado.

— O mínimo necessário para o serviço funcionar seriam dez oncologistas. Diante das péssimas condições de atendimento, cinco dos oito médicos do setor deixaram a unidade e apenas um foi contratado. Hoje, somente quatro oncologistas atendem todos os pacientes do Bonsucesso — denunciou Macedo.

A despeito desses números, o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) do Ministério da Saúde no Rio informou que o “HFB já ampliou em 40% o número de oncologistas para consultas e tratamento dos pacientes”.

 

Problema recorrente, a farmácia do Serviço de Oncologia segue com prateleiras vazias. Doze quimioterápicos estão com estoque zerado. Outros sete têm “estoque crítico”, insuficiente para completar sequer um mês de tratamento.

— Encontramos uma lista com 30 pacientes aguardando cirurgia de mastectomia desde novembro, por falta de quimioterápico (tratamento que reduz o tumor para, então, ser retirado) e anestesista — disse Nahon.

A dona de casa Paula Cristina Sarmento da Silva, de 39 anos, começou o tratamento quimioterápico em agosto do ano passado. Em seguida, ela faria a cirurgia para retirar o câncer da mama. Mas, o medicamento indicado para o seu tumor acabou no estoque do hospital e, para tentar minimizar os danos, o médico receitou outro quimioterápico. Não adiantou.

— Fiquei mais de um mês sem quimioterapia e tive a medicação trocada por uma que não era a mais indicada, mas era a que tinha no estoque. O tumor na mama diminuiu, mas surgiram nódulos na coluna. Se não fosse isso, já poderia fazer a cirurgia agora e retirar o tumor. Mas vou precisar de mais sessões de quimioterapia e já não há mais previsão para a realização da cirurgia — contou Paula, ressaltando que outros pacientes também tiveram o tratamento interrompido.

Apesar de o Instituto Nacional de Câncer (Inca) ter a política de não receber pacientes que já iniciaram tratamento em outras unidades, o DGH do Ministério da Saúde garante que o Bonsucesso conta com o apoio do restante da rede federal no Rio, “em especial do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para a realização de sessões de quimioterapia e exames em pacientes oncológicos”. A despeito da grave falta de quimioterápicos em seu estoque, afirma que “o protocolo de atendimento do Inca também passou a ser utilizado em todos os hospitais da rede, o que inclui a padronização da medicação aplicada”. Paralelamente, acrescenta o DGH, “o hospital (HFB) está acelerando ao máximo possível junto a fornecedores a entrega de medicamentos já comprados”.

 

Superlotação na ‘emergência de lata’

E não é apenas o Serviço de Oncologia que não tem recebido pacientes. Segundo o Cremerj, o hospital como um todo está com a fila bloqueada para novos pacientes cirúrgicos.

— Essa situação aponta claramente para uma tentativa de desmonte da unidade. A redução de médicos obriga os profissionais a trabalharem em condições precárias, sem insumos suficientes para proporcionar o melhor tratamento aos seus pacientes. A fila chegou a ser bloqueada e o governo federal não sugere nenhuma solução viável. O que parece é que o hospital está sendo sucateado para justificar um fechamento — afirmou Nahon.

 

Na “emergência de lata”, que funciona em contêineres desde 2011, quando o setor do hospital entrou em reforma, mais de 20 pacientes estavam em cadeiras no corredor. No total, 55 pessoas eram atendidas ali, nesta segunda-feira. Algumas, há dias recebendo apenas analgésicos. Era o caso da mulher de José Paulino da Silva, de 55 anos. Miriam Dionísio, de 42 anos, está numa maca, desde quinta-feira, chorando de dor.

— Há cinco dias, minha mulher está nessa emergência, gemendo de dor, com o braço e um seio muito inchados. Ela perdeu o acesso por onde faz hemodiálise e não consegue o exame de que precisa porque o equipamento está quebrado. Dão a ela apenas remédios para dor e para dormir. Minha mulher é nova e cheia de vida. Não sei mais o que fazer — contou o marido de Miriam Dionísio, de 42 anos.

 

Confira a nota oficial do Ministério da Saúde na íntegra:

“O Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) já ampliou em 40% o número de oncologistas para consultas e tratamento dos pacientes. Há duas contratações já realizadas para ajudar a suprir o aumento que houve em 2016, de 20% no atendimento oncológico (consultas de pacientes com câncer e sessões de quimioterapia), em relação ao ano anterior. O hospital chegou a realizar 11.422 atendimentos oncológicos no ano passado, além dos atendimentos de emergência a pacientes com câncer. Todos os pacientes que procuram a emergência estão recebendo o tratamento necessário.

 

O HFB conta com o apoio do restante da rede do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, em especial do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para a realização de sessões de quimioterapia e exames em pacientes oncológicos. O protocolo de atendimento do Inca também passou a ser utilizado em todos os hospitais da rede, o que inclui a padronização da medicação aplicada. Paralelamente, o hospital está acelerando ao máximo possível junto a fornecedores a entrega de medicamentos já comprados.

Além de oferecer serviços do SUS em seis hospitais e três institutos federais, o Ministério da Saúde ampliou em 12% os recursos para tratamentos oncológicos (cirurgias, radioterapias e quimioterapias), passando de R$ 141,5 milhões para R$ 159,5 milhões, no estado do Rio de Janeiro. O SUS oferece atendimento integral (diagnóstico e tratamento) e gratuito para todos os tipos de câncer. Entre os tratamentos estão cirurgias oncológicas, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e cuidados paliativos.”