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Ligas da UFRJ realizam evento sobre infecções

26/05/2010


O CREMERJ sediou nesse sábado, 22, o II Encontro Científico das Ligas Acadêmicas da UFRJ, cujo tema central foi “Infecções: O Mal Comum”. Organizado por 10 dos 12 grupos da universidade, o evento contou com a participação de mais de 50 alunos ao longo das oito palestras, todas ministradas por professores da Faculdade de Medicina da instituição.

Ao abrir o encontro, ao lado dos coordenadores Natalia Verdial e Diogo Medeiros, o 1º tesoureiro do CREMERJ, Armindo Fernando da Costa, elogiou a iniciativa: “Ficamos muito honrados em receber os estudantes aqui, na sua futura casa, pois o CREMERJ é a Casa do Médico, e queremos abraçar vocês desde já. Vocês serão os grandes médicos de amanhã, e é muito bom poder fazer parte desse trabalho, desse empreendedorismo das Ligas”.

As Ligas são organizações de alunos voltadas para o ensino, a pesquisa e a extensão em determinada área médica. “A união dos acadêmicos em torno de uma especialidade da Medicina representa não só a integração dos estudantes, mas também a busca pelo conhecimento e pelo aperfeiçoamento”, afirmou Natalia, que também é presidente da LATE (Liga Acadêmica de Trauma e Emergência).

Para o secretário geral do CREMERJ, Pablo Vazquez Queimadelos, a organização dos estudantes em Ligas favorece e estimula o estudo da Medicina. “A aproximação dos alunos e dos professores permite que sejam discutidos os métodos de tratamento e de prevenção de doenças, que muitas vezes não foram aprofundados durante as aulas”, assegurou. “O relacionamento das Ligas com o Cremerj também é importante para que os estudantes tenham um contato maior com a ética médica e uma visão mais ampla das perspectivas de trabalho”, completou.

“A primeira Liga surgiu em 2004, de Neurologia. Em 2007, nasceram a de Trauma, Medicina Intensiva e Cardiologia. Contudo, somente em 2009 tivemos o apoio oficial da universidade, o que nos permitiu fortalecer e vincular algumas delas aos projetos de extensão da faculdade”, destacou Natalia. Estudante do 8º período, ela ressaltou a importância dos grupos: “Nós fazemos parte de um movimento pioneiro, em que cada Liga reúne alunos de vários períodos que têm interesses comuns na Medicina. E assim nós ampliamos nosso contato com as especialidades médicas”.

Os certificados do evento foram assinados pelo professor Lúcio Pereira, coordenador de graduação da UFRJ, em uma demonstração de apreço da instituição ao movimento dos estudantes.  Além do CREMERJ, o II Encontro Científico das Ligas Acadêmicas também teve o apoio da revista Adolescente & Saúde e da AssessorMed.

Durante as atividades, os organizadores receberam do ex-presidente da LATE Helder Vilela o Manifesto de Apoio e Reconhecimento das Ligas Acadêmicas da UFRJ, feito pelos alunos que, assim como ele, estão se formando.

Palestras

Em “Infecções Gastrointestinais”, a gastroenterologista Celeste Elia chamou a atenção para a importância das bactérias e seu papel no organismo humano. “É bom lembrar que temos mais bactérias do que células no nosso corpo, e necessitamos desses microrganismos para sobreviver. Entretanto, é preciso aceitar que as doenças são uma questão social. Não podemos apenas atribuir às bactérias os nossos problemas de saúde”, ponderou. Ela ainda elucidou os tratamentos para as infecções enfocando na era metagenômica: “Hoje podemos lançar mão de antibióticos, probióticos, prebióticos e simbióticos. Ou seja, as próprias bactérias podem salvar a nossa vida”.

O otorrinolaringologista Felippe Félix falou sobre o diagnóstico e os tratamentos na palestra “Oitite Média Aguda”. Muito frequente entre os seis e onze meses de idade ou entre os quatro e cinco anos, a doença tem um alto custo para tratamento, mas pode ser facilmente evitada. “É mais interessante prevenir o problema com aconselhamento familiar. Basta incentivar que a criança deixe de usar chupeta após os seis meses de idade, estimular o aleitamento materno até, pelo menos, os três meses e, principalmente, impedir o tabagismo passivo”, evidenciou. Ele também destacou que 81% dos casos de otite média aguda têm resolução espontânea, caso o médico prescreva antibiótico ou não. “Países como a Holanda, por exemplo, tendem a evitar a prescrição de antibiótico e instituir a conduta observacional. Só que existe uma dificuldade de se aplicar este tipo de conceito em países em desenvolvimento, por conta do difícil acesso à saúde pública. Nesses casos, o ideal é investir em prevenção”, conclui.

Responsável por tratar de “DIP e Cervicites”, o ginecologista Renato Ferrari explicou que a doença inflamatória pélvica é uma afecção dos órgãos superiores, que acomete, principalmente, adolescentes e adultos jovens. De acordo com ele, a situação estudada nos livros é bem diferente da realidade no dia-a-dia. “Hoje, não existe serviço de Ginecologia e Obstetrícia no sistema público de saúde, o que dificulta o diagnóstico no quadro inicial da doença. Muitas vezes a paciente acaba chegando à emergência em estágio avançado, desnecessariamente, pois se pode evitar o avanço de grande parte dos problemas quando há um diagnóstico precoce”, atestou.  

Durante a palestra “Infecções em Pacientes Oncológicos”, a anestesista Núbia Verçosa destacou que, como atualmente os exames são muito caros e pouco acessíveis, é preciso buscar alternativas para procurar a causa das doenças. “Os jovens médicos são cheios de vontade de ajudar os pacientes, mas sempre esbarram na falta de recursos e medicamentos na rede pública”, disse. Ao abordar os cuidados paliativos em pacientes terminais, ela citou as mudanças no artigo 40 do novo Código de Ética Médica, que permite ao paciente terminal uma morte tranquila com sedativos e analgésicos, consideradas uma vitória para a classe. “Estudamos para salvar vidas. Então, é frustrante quando nos deparamos com um paciente que não tem possibilidade de cura, mas agora ele pode morrer com dignidade”, exclamou.

A dermatologista Maria Kátia Gomes falou sobre “Hanseníase” e mostrou aos estudantes alguns casos, salientando que o diagnóstico precoce é o passo mais importante para solucionar a doença. Segundo ela, Índia e Brasil são os países com a maior incidência no mundo. Só no Brasil são cerca de 40 mil casos novos por ano. A médica também alertou que, atualmente, quase todos os estados brasileiros estão endêmicos - para ser considerado endêmico basta que haja um caso de hanseníase em cada 10 mil habitantes. “No Rio de Janeiro, a área mais endêmica é a Baixada Fluminense. A situação é tão alarmante que, durante uma campanha em Jacarepaguá, encontramos um caso para cada 60 pacientes analisados. Como a hanseníase é uma doença incapacitante, porque afasta o paciente do trabalho ou da escola, é fundamental detectar precocemente os novos casos e treinar os médicos da atenção básica”, orientou.

O cirurgião geral Marcos Freire, em “Emergências Abdominais Infecciosas”, expôs imagens dos casos de pacientes, identificando o problema e as possibilidades de tratamento. Ele aproveitou para desmistificar a analgesia: “Na verdade, a analgesia não mascara o diagnóstico, pelo contrário, ela nos ajuda. Quando reduzimos a dor do paciente, ele nos permite realizar um exame mais minucioso e, com isso, podemos ter dados mais objetivos”. “Hoje, temos um leque de exames, dos mais simples aos mais sofisticados, mas um histórico detalhado é fundamental. Além disso, é importante dizer que muitas vezes as emergências abdominais têm uma evolução lenta, e nem sempre a cirurgia deve ser a primeira opção”, frisou.

A infectologista Ana Cristina de Gouveia Magalhães trouxe suas experiências para abordar “Infecções Relacionadas ao Uso de Cateteres Vasculares”. Ela lembrou aos presentes que o mais importante nos casos de infecção por cateteres é o reconhecimento do tipo do problema que pode estar acometendo o doente. “Não adianta sair dando antibiótico para o paciente, pois um grande número deles não necessita realmente de tratamento. A retirada do cateter já resolve o problema“, garantiu.   

O cirurgião pediátrico Davi Somberg, em “Infecção por Instrumental Cirúrgico”, reforçou a necessidade da esterilização dos materiais. Ele apresentou aos estudantes a história da esterilização na Medicina: “Louis Pasteur, como químico, nos trouxe a teoria da fermentação, provando que a pasteurização era uma forma de tornar certos alimentos livres dos microrganismos nocivos. Já o obstetra Ignác Fülöp Semmelweiss, apesar de, à época, ser considerado um louco, foi quem descobriu a importância de se lavar as mãos antes de atender as parturientes do hospital em que trabalhava para evitar que morressem”. “A esterilização é, sim, necessária. Como fazê-la é, muitas vezes, o problema”, desafiou, apresentando aos estudantes os métodos e equipamentos para tornar os instrumentos cirúrgicos livres de microrganismos.