Aviso de Privacidade Esse site usa cookies para melhorar sua experiência de navegação. A ferramenta Google Analytics é utilizada para coletar informações estatísticas sobre visitantes, e pode compartilhar estas informações com terceiros. Ao continuar a utilizar nosso website, você concorda com nossa política de uso e privacidade. Estou de Acordo

COMBINAÇÃO PERIGOSA

30/05/2020

Na semana comemorativa do Dia Mundial sem Tabaco – 31 de maio de 2020, o CREMERJ, por meio do Grupo de Trabalho sobre Drogas Lícitas e Ilícitas, se junta aos esforços da Organização Mundial da Saúde, autoridades sanitárias e Médicos envolvidos no combate a pandemia da COVID-19, alertando quanto aos riscos de fumar ou vaporizar tabaco, que podem favorecer a transmissão e o agravamento do quadro clínico causado pelo SARS-CoV-2. Clinicamente, a COVID-19 se apresenta de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves e disfunção de vários órgãos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% dos casos são assintomáticos ou leves, enquanto 20% são formas de moderadas a graves, requerendo hospitalização por síndrome respiratória aguda. Cerca de 5% são formas críticas, que necessitam de suporte ventilatório mecânico. Os indivíduos que evoluem para as formas mais graves da COVID-19 são os portadores de diabetes mellitus, hipertensão arterial, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer. Todas estas doenças têm reconhecida relação de causalidade com o tabagismo. Todas as formas de consumo de tabaco aumentam o risco de desenvolver a COVID-19, inclusive a forma mais crítica, que pode levar a um desfecho fatal. O uso de cachimbo d’água (narguilé) e dispositivos eletrônicos para vaporizar nicotina ou tetraidrocanabinol (THC) aumenta o risco de transmissão, pelo uso compartilhado de mangueiras e piteiras do narguilé, cigarro eletrônico e do tabaco aquecido, pois o usuário exala gotículas de vapor, propagando o SARS-Cov-2. Fumantes de tabaco aquecido apresentam os mesmos riscos de complicações da COVID-19 que os usuários do cigarro tradicional. A exposição à fumaça ou ao vapor de tabaco é o principal fator de risco para doenças respiratórias, infecções bacterianas, virais e tuberculose, devido às mudanças estruturais no trato respiratório e à redução de sua resposta imune. O tabagismo é prejudicial ao sistema imunológico e à capacidade de resposta às infecções, tornando os fumantes mais vulneráveis às doenças infectuosas. Na microepidemia de MERS-CoV, no Oriente Médio, coronavírus clinicamente similar à COVID-19, houve associação significativa entre tabagismo e taxa de mortalidade. Os fumantes dobram as chances de contrair influenza, terem sintomas mais graves e maior mortalidade, comparados aos não fumantes. A exposição à fumaça do tabaco aumenta a inflamação na mucosa respiratória, a expressão de citocinas inflamatórias e o fator de necrose tumoral; aumenta a permeabilidade da barreira alvéolo-capilar – edema, espessamento septal e hipersecreção mucosa-, e compromete o transporte muco ciliar. Conhecer os fatores evitáveis do hospedeiro, como o tabagismo, é importante na redução da contaminação viral e da gravidade da doença. A principal porta de entrada do SARS-Cov-2 é através das mucosas da boca, nariz e vias aéreas superiores e, menos frequentemente, pela conjuntiva dos olhos. Na síndrome de angústia respiratória severa (SARS), causada pelo SARS-CoV-2, há envolvimento dos receptores da enzima conversora da angiotensina II (ECA2), que são abundantes nos pneumócitos tipo II e no tecido alveolar. A expressão genética da ECA2 é maior no epitélio das grandes e pequenas vias aéreas de fumantes e ex-fumantes, comparados a quem nunca fumou. Fumantes, ex-fumantes e portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) apresentam aumento da expressão da ECA2 nas vias aéreas inferiores. Isto sugere que fumar contribui para o aumento dos receptores virais sendo, portanto, um importante fator de risco para complicações e de prognóstico reservado na infecção pelo SARS-CoV-2, o que não se observa em infectados não fumantes. Os fumantes fazem parte do grupo de risco para a contaminação e complicações da COVID-19, não somente pelas comorbidades tabacorelacionadas preexistentes, mas também porque apresentam elevados níveis de proteína C reativa (PCR), Dímero-D e das citocinas pró-inflamatórias. Assim como ocorre nos fumantes, indivíduos contaminados com SARS-CoV-2 apresentam elevações das interleucinas (IL-2 e IL-7), além do fator de necrose tumoral alfa, o que contribui para a síndrome de tempestade de citocinas, responsável pelas graves lesões endoteliais, observadas em pacientes que evoluem para a forma grave da COVID-19, com excesso de inflamação e síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO). Portanto, a cessação do tabagismo é importante medida de proteção, e deve ser encorajada pelos Médicos como forma de motivar o fumante a deixar de fumar.