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ORIENTAÇÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL NA “QUARTA ONDA” DA PANDEMIA

18/05/2020

Com o objetivo de orientar os médicos profissionais da saúde e a população em geral sobre a grave situação de sofrimento psíquico que aflige a todos, nesse momento de pandemia da Covid-19, que vem provocando fortes crises de ansiedade, depressão, aumento no número de suicídio, abuso de álcool e outras drogas, o CREMERJ, por meio de sua Câmara Técnica de Psiquiatria e Saúde Mental, esclarece:

A pandemia vem se prologando por mais tempo do que poderíamos prever ou supor inicialmente. O alongamento do tempo e a imprevisibilidade quanto ao término deste período de exceção vem trazendo consigo uma sobrecarga de pressões psíquicas de todas as ordens. As pessoas ao assistirem seus próximos sucumbirem diante da doença, temerosas quanto à sua própria integridade, submetidas ao confinamento prolongado, já sentindo os efeitos da economia com todos os seus corolários, gerando uma crise que perpassa desde as empresas falindo, sem ter como arcar com suas contas que geram desemprego, até famílias que já não têm como alimentar seus filhos, vivendo em situações precárias e que estão impossibilitadas de manter o isolamento social, com todas as circunstâncias cada vez mais hostis, houve um aumento exponencial no estresse que vem afligindo à população. A resiliência dos indivíduos frente a poderosos fatores estressantes têm limites. Já se configura, inequivocamente, a chamada “quarta onda”, que é a eclosão massiva de transtornos mentais.

O que temos observado, num primeiro momento já em curso, é um “pico” dos transtornos de ansiedade, que incide tanto sobre aqueles que já padeciam anteriormente sob a forma de recaídas, como sobre os que jamais haviam apresentado algum sintoma prévio, cuja predisposição emerge sob estresse elevado.

Imaginemos o que acontece com os que padecem de hipocondria e que angariam informações ininterruptas sobre a sintomatologia da doença e “passam a sentir tudo”. Também, pautemos os que sofrem de TAG (transtorno de ansiedade generalizada) e que são “bombardeados”, diuturnamente, com notícias catastróficas e apocalípticas. O que dizer sobre o que sofrem pelo transtorno de pânico, estes estão muito mais propensos às crises, sob pressão muito maior. “E os fóbicos, principalmente, aqueles com fobias específicas a contaminação por patógenos invisíveis, esses estão em maus lençóis”. Não podemos deixar de mencionar a entidade mórbida que é um capítulo à parte devido sua alta complexidade. O TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), cuja manifestação corresponde às ideias obsessivas de contaminação e rituais compulsivos de limpeza.

A incidência apresenta uma curva exponencial. Num segundo momento, observamos a manifestação dos transtornos depressivos, diante do fato de que os transtornos de ansiedade quase sempre levam à depressão, assim como o estresse prolongado. Incapacitante, a depressão pode matar. O aumento de tentativas de suicídio e casos consumados é alarmante. Outros vêm a reboque. O transtorno bipolar e outros transtornos psicóticos, em menor escala, obedecem a mesma curva. 

A dependência química e o abuso de álcool e drogas, assim como a violência doméstica são, igualmente, preocupantes e acarretam consequências deletérias. Mais a frente, inevitavelmente, nos depararemos com uma alta ocorrência de TEPT (transtorno de stress pós-traumático). Face ao exposto, faz-se necessário ressaltar a imperiosa manutenção dos tratamentos psiquiátricos para aqueles que já o fazem. Observando rigorosamente, a medicação e as consultas, além da procura imediata de assistência psiquiátrica para aqueles que se veem acometidos pela primeira vez.

Atualmente, durante essa pandemia, os pacientes que já estão sob acompanhamento têm a possibilidade de fazerem suas consultas por telemedicina e receberem suas receitas assinadas digitalmente. Para os pacientes com primeiro episódio, casos mais graves ou descompensados, é aconselhável a consulta presencial, visto que, os médicos estão a postos, na “linha de frente”, prontos para prestar atendimento, respeitando sempre as orientações recomendadas pela OMS.

Outro aspecto inalienável é a saúde dos médicos. Os Heróis, juntamente, com outros profissionais da saúde combatem de “peito aberto” a Covid-19. Arriscando sua vida e a de seus familiares, muitas vezes sem as mínimas condições de trabalho, em jornadas prolongadas e exaustivas, vendo caírem aqueles com quem estão ombreados na luta e sem garantia de continuar provendo o sustento de suas famílias. Suas angústias e apreensões são inegavelmente maiores.

Portanto, considerando que a gravidade desta pandemia quebrou toda a nossa “onipotência narcísica” e as nossas fantasias de indestrutibilidade, é premente que nos irmanemos todos na tomada de decisões e atitudes que nos possibilite passar por este momento tão nefasto e que ao final de tudo, nos tornemos mais humildes, solidários e fortes.