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Ministro encerra diálogo e nega melhorias para a Saúde no Rio

16/10/2017

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, esgotou qualquer possibilidade de debate com as entidades profissionais de saúde no Estado do Rio de Janeiro. Durante reunião no CREMERJ nessa segunda-feira, 16, ele se mostrou extremamente desrespeitoso com os presidentes e representantes dos conselhos profissionais, com os médicos e demais funcionários que atuam nas unidades e até com os secretários estadual e municipal de Saúde da capital. Mantendo sua postura arrogante e declarações polêmicas e injustas, inclusive contra a população fluminense, o mandatário da pasta surpreendeu de forma negativa os participantes do encontro ao fornecer dados absurdos sobre os hospitais federais, reafirmando que não fará a renovação dos contratos temporários por não existir falta de equipes nas unidades.

Após a reunião, o presidente do CREMERJ, Nelson Nahon, frisou que, infelizmente, o ministro, que é engenheiro, desconhece a realidade dos hospitais e a necessidade da população: "Ricardo Barros é incapaz de manter o diálogo. Ele só vê números, e, ainda assim, números que não condizem com o que vemos nas unidades. Ele se nega a conhecer o cenário da saúde do Rio de Janeiro e as demandas dos profissionais”, declarou Nahon.


Reunião no CREMERJ

A deputada federal Jandira Feghali, representando a Frente Parlamentar de Saúde, abriu a audiência explicando que a reunião foi motivada pelo agravamento do desmonte das unidades federais do Rio de Janeiro nos últimos meses. A parlamentar deu um panorama dos principais problemas encontrados nas fiscalizações realizadas pela Comissão Externa da Câmara dos Deputados, em conjunto com CRM e Coren. Os pontos mais críticos apontados por ela foram o déficit de recursos humanos e a deficiência da regulação de pacientes.

“A comissão já tomou medidas no campo jurídico e legislativo, mas precisamos de resoluções imediatas, pois a população não pode continuar desassistida. Além disso, é preciso que a reestruturação do perfil das unidades proposta pelo Ministério da Saúde seja debatida com os conselhos profissionais, além do corpo clínico, pois são eles que vivem o dia a dia das unidades”, acrescentou.

Em seguida, o presidente do CREMERJ, Nelson Nahon, relatou uma série de problemas encontrados nos seis hospitais federais no Rio (Andaraí, Bonsucesso, Cardoso Fontes, Ipanema, Lagoa e Servidores do Estado) e nos três institutos (de Cardiologia, de Câncer e de Traumatologia e Ortopedia) durante fiscalizações do Conselho e reuniões com o corpo clínico. Ele também salientou que a não renovação dos contratos tem provocado o fechamento de serviços e de leitos, além da redução de atendimentos.

Antes de iniciar os debates com os presentes, o secretário de Atenção à Saúde (SAS), Francisco de Assis Figueiredo, apresentou o projeto de reestruturação da rede federal do Rio de Janeiro. Mas o que chocou os participantes do encontro foi a proposta de redução no número de profissionais em todas as unidades. Equivocadamente, segundo o secretário, a rede hoje apresenta um número excessivo de recursos humanos e, mesmo assim, tem serviços ociosos.

O conselheiro do CREMERJ Gil Simões contestou o projeto, principalmente a redução no número de profissionais. “Trabalho há 30 anos no serviço de pediatria do Hospital Federal dos Servidores e posso garantir que toda a minha equipe é muito comprometida. Além disso, com toda a minha experiência, posso afirmar que nunca vi um momento tão ruim da saúde pública. A população está totalmente desassistida. A solução não é reduzir quadro, mas sim realizar concurso público e criar a carreira de Estado, pois uma das consequências da contratação temporária são falta de continuidade dos serviços e prejuízos há formação médica”, disse.

O replanejamento da rede também foi amplamente desaprovado pelos representantes do corpo clínico das unidades. A sugestão de redução do número de contratos foi o ponto mais criticado, pois todos alegaram falta de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. O chefe da Clínica Cirúrgica do Hospital Federal de Bonsucesso, Baltazar Fernandes, contestou os números sobre a unidade apresentados pelo secretário da SAS.

“O que nos preocupa é o desencontro total com a realidade do hospital, especialmente em relação aos recursos humanos. Não temos funcionários demais, ao contrário, estamos com uma grande carência de pessoal. Não conseguirmos repor o quadro vamos comprometer muito a formação médica. Os hospitais federais são grandes formadores e não podemos deixar que isso se perca”, acrescentou.

A inconsistência dos dados de recursos humanos também foi apontada por Maria José, do Hospital Federal do Andaraí (HFA). Ela contou que os serviços de pneumologia e de cardiologia, por exemplo, foram fechados por falta de médicos. O déficit de recursos também atingiu o CTI, que perdeu quatro leitos devido à falta de profissionais.

“Dependendo do que acontecer até o final do ano vamos fechar mais serviços. Além de estarmos reduzindo as equipes em razão do fim dos contratos temporários, muitos profissionais estão pedindo demissão devido à insegurança. Temos nos esforçado muito para manter a unidade funcionando, mas a cada dia tem ficado mais difícil. A ponta está se sentindo abandonada, senhor ministro”, desabafou.

O diretor do Conselho Federal de Medicina (CFM) Sidnei Ferreira chamou atenção para o fato de o CREMERJ e o CFM já terem apresentado ao ministro anteriormente, em Brasília, relatórios que apontam a situação real das unidades no Estado do Rio e cobrou uma resolução urgente dos problemas.

Ministro ataca profissionais e secretários. Vejam a lista:

1- Apesar dos apelos, o ministro da Saúde foi enfático ao declarar que o planejamento será posto em prática, independentemente da opinião dos profissionais e dos conselhos. Ele alegou que o mapeamento do perfil foi feito baseado na consultoria de profissionais do hospital Sírio Libanês (SP) e que ele acredita que condiz com a realidade (no Hospital Federal Cardoso Fontes, a equipe do Sírio Libanês fez o mapeamento da unidade em apenas quatro horas).

2- “A Saúde está ruim, mas ninguém quer fazer nada. Quando se fala em mudar, dizem: “Não mexe no meu queijo”. Vai mudar em outro lugar. Vamos transformar tudo sim. Para melhorar o Sistema Único de Saúde (SUS) é preciso mexer. Vim para deixar melhor. É obvio que temos um problema de gestão no Rio de Janeiro e precisamos mudar isso”, declarou.

3- Sobre os contratos temporários, Ricardo Barros reafirmou que serão cortados 1,5 mil contratos temporários da folha de pagamento e que só serão renovados os contratos das especialidades que serão determinadas para cada unidade. Para ele, isso trará produtividade e economia e não faltará atendimento. A respeito do erro nos dados citados, ele disse que está aberto a receber correções, mas alfinetou os diretores das unidades alegando que eles não passaram as informações que foram pedidas há meses.

4- “Não vamos renovar só porque já tem no hospital. Precisa parar com a catimba e resolver. Chega de empurrar com a barriga. Parem de proteger quem não trabalha. Aqui no Rio de Janeiro se apresenta vantajoso ser solidário a quem não trabalha. Seja solidário com quem está doente na porta do hospital. Vamos acabar com o privilégio”, atacou.

5- Sobre a regulação, o ministro também foi agressivo com os secretários estadual e municipal de Saúde da capital. Ele exigiu que as entidades cheguem a um acordo sobre o funcionamento da regulação única.

6- “Não aguento mais olhar na cara desses dois secretários. Com vocês é tudo para amanhã. Aqui tudo sempre é para amanhã. Estou estudando o Rio de Janeiro há muito tempo e a regra é deixar para amanhã. Todo mês venho aqui para resolver isso. Estou nessa há um ano e meio. Quem vai perder é o Rio de Janeiro, é o cidadão fluminense, é quem precisa da Saúde pública”, desconversou.