Fórum debate sobre o Aedes aegypti, zika vírus e microcefalia
14/12/2015
A Câmara Técnica de Doenças Infecciosas e Parasitárias e Controle de Infecção Hospitalar do CREMERJ realizou, nessa quinta-feira, 10, o “Fórum Aedes aegypti, zika vírus e microcefalia epidêmica”. O evento reuniu os principais especialistas em epidemiologia do país e teve como objetivo discutir a doença entre a categoria médica, além de apresentar dados do surto nos Estados de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Cerca de 300 pessoas compareceram ao fórum, que teve transmissão simultânea do auditório Júlio Sanderson para o Charles Damian.
Na abertura, a responsável pela Câmara Técnica de Doenças Infecciosas do Conselho, a diretora Marília de Abreu, ressaltou a importância da troca de informações diante das recentes complicações neurológicas relacionadas ao zika vírus.
“Com o crescente aumento do número de casos de contaminação e das intercorrências em gestantes, decidimos realizar este evento para melhor informar os colegas, principalmente porque o diagnóstico inicial não é fácil e pode confundir”, adiantou a conselheira.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Celso Ramos Filho, que também integra a câmara técnica, ministrou a palestra “A visita da velha senhora: Aedes aegyti e suas epidemias”. Ramos salientou que o maior problema sanitário enfrentado neste século, em todo o mundo, são as epidemias urbanas transmitidas pelo mosquito da dengue. O surto, como frisou, é maior do que a infecção por HIV, que se encontra razoavelmente equacionado.
“Estamos bem perto da cura da Aids e até hoje não temos nenhum método adequado, caro ou barato, capaz de controlar o mosquito da dengue. Temos bons exemplos de que é possível conter epidemia, como aconteceu em Cuba e Cingapura, mas é preciso conscientização e mais engajamento da população, das organizações e de todas as esferas do governo, além de campanhas mais eficientes”, explicou Ramos, acrescentando que a previsão do Ministério da Saúde é de que até o final de 2015 o Brasil registre cerca de 1,5 milhão de infecções pelo zika vírus.
Casos em Pernambuco
A coordenadora do laboratório de microcefalia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), em Pernambuco, Regina Coeli Ramos, foi convidada para falar sobre seu trabalho na unidade – que foi a primeira no país a identificar a ocorrência de deformação de fetos relacionados ao zika vírus. A epidemiologista informou que, somente no HUOC, que é referência no assunto, são atendidos diariamente cerca de 13 gestantes com o problema. Um caso alarmante, visto que a média anual de atendimento no Estado foi de 12 em 2014.
Em sua palestra, a epidemiologista apresentou casos clínicos e esclareceu as principais dúvidas sobre o diagnóstico do vírus em gestantes e como proceder em situações de suspeita de má-formação nos fetos. Ela orientou que merecem atenção redobrada as alterações tomográficas e a situações de perímetro encefálico igual ou menor a 32 centímetros, um dos sinais da doença.
Uma das dificuldades, segundo a especialista, é fazer com que as mães procurem atendimento nos primeiros cinco dias da contaminação pelo zika vírus. Ela defendeu a estruturação da rede pública de saúde para atender o esperado número ascendente de casos.
“É preciso uma rede estruturada para fazer o atendimento básico e de acompanhamento multidisciplinar, com pediatra, neurologista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e apoio psicológico, entre outras especialidades”, afirmou.
Na segunda parte do encontro, a professora da UFRJ Diana Maul de Carvalho ministrou a palestra “Interferência Epidemiológica: Associação e Causalidade”, onde abordou como a epidemologia pode contribuir para esclarecer a possível relação entre o zika vírus e os casos de microcefalia. Ela enfatizou que é preciso montar protocolos de acompanhamento, discussão e realizar pesquisas.
“Vivemos um momento em que não temos como responder com certeza se o vírus tem relação direta com todos esses registros de má-formação nos fetos. Precisamos elaborar formas de observações adequadas, atender as pessoas que estiverem com a doença e, progressivamente, ir aumentando o conhecimento sobre essa nova situação. Somente desta forma vamos mapear a atuação do zika vírus”, declarou.
Casos no Rio de Janeiro
O ciclo de palestras foi encerrado pelo subsecretário de Vigilância Epidemiológica do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe. Ele falou sobre o cenário atual do zika vírus e da microcefalia no Estado e quais as ações estão sendo desenvolvidas para atender a população e mapear os casos.
De acordo com Chieppe, a Secretaria de Estado de Saúde tornou obrigatória a notificação de manchas vermelhas (exantemas) em gestantes e de alterações neurológicas agudas associadas a casos de exantema. Além disso, as unidades de sentinela estão sendo usadas para acompanhar a circulação do vírus no território.
Desde 18 de novembro, quando se tornou obrigatório no Estado a notificação de gestantes com exantema, já foram notificados 341 casos. Até o momento, quatro tiveram a confirmação de zika vírus, mas ainda não há confirmação se os fetos apresentam microcefalia.
“O sistema de vigilância está organizado e alinhado com o que está recomendado pelo Ministério da Saúde. O desafio agora é organizar todos os protocolos assistenciais nos 92 municípios do Rio de Janeiro e dar a assistência adequada à população infectada pelo zika vírus e, em especial, às grávidas com exantema e com seus bebês suspeitos de terem microcefalia”, explicou.
A última parte do evento ficou por conta dos comentários dos especialistas convidados. O presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (Sierj) e membro da Câmara Técnica de Doenças Infecciosas do CREMERJ, Alberto Chebabo falou sobre o uso de repelentes e de outros métodos de prevenção da doença. O membro da Câmara Técnica de Neurofisiologia Clínica e Neurologia do Conselho, Charles André, fez comentários sobre a possível mutação do zika vírus e as sequelas neurológicas causadas por ele. Já o membro da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do CREMERJ, Renato Augusto Moreira de Sá encerrou os comentários falando sobre a importância da assistência médica, laboratorial e psicologia adequada às gestantes contaminadas. Após as considerações, os colegas presentes fizeram perguntas aos especialistas.
Estiveram presentes a vice-presidente do CREMERJ Ana Maria Cabral e os conselheiros Serafim Borges, Vera Fonseca e Luís Fernando Moraes.
Clique aqui para ver Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Relacionada à Infecção pelo Vírus Zika.