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Médicos federais denunciam situação crítica na oncologia do RJ

12/05/2015

Chefes do serviço de oncologia denunciaram várias irregularidades em reunião nessa segunda-feira, 4, organizada pelo CREMERJ. Entre os relatos, os médicos citaram a demora do atendimento dos pacientes, o que dificulta o tratamento da patologia, a falta de medicamentos básicos e de equipamentos, além de problemas com a regulação de vagas.

Médicos do Hospital Federal do Andaraí ressaltaram que um dos pontos mais críticos na unidade é o setor de anatomia patológica. Segundo ele, a liberação de qualquer peça cirúrgica chega a levar de seis meses a um ano para ser efetuada, além de grande carência de recursos humanos.

“Ou seja, são muitas dificuldades para que façamos o diagnóstico precocemente. Sempre tem algo que emperra o tratamento ao paciente como a falta de anatomia patológica, de CTI, de quimioterápico ou radioterapia”, disseram eles, que também apontaram o Sistema de Regulação de Vagas (Sisreg) como um dos complicadores, já que frequentemente encaminha pacientes para a cirurgia geral que estão fora da possibilidade cirúrgica de tratamento.

O oncologista do Hospital do Andaraí Geraldo Tosta informou ter conhecimento de que atualmente 260 pacientes aguardam oportunidade de fazer radioterapia. Já a médica Maria de Fátima Dias, do Hospital Clementino Fraga Neto, informou que na unidade é comum a ausência de medicamentos, como quimioterápicos e creatinina. Além disso, de acordo com ela, a radioterapia do hospital está tão crítica que alguns pacientes estão sendo encaminhados para fazer tratamento em Juiz de Fora. Além disso, para ela, o Programa Saúde da Família nem sempre ajuda, pois alguns pacientes chegam à instituição com a patologia extremamente avançada.

“O paciente não consegue ser encaminhado para fazer uma colonoscopia e, com isso, ele nos chega com metástase hepática. Se houvesse um registro, veríamos que o estadiamento do paciente com câncer no Rio de Janeiro mudou. O predomínio atual é, com certeza, de estadio 3 e 4. Posso dizer que há casos de pacientes com câncer no reto que aguardam tratamento há dois meses, com dor e sangramento, sem que a Justiça resolva a situação”, exemplificou.

O médico Ernani Saltz, do serviço de oncologia clínica do Hospital Cardoso Fontes, disse que os hospitais municipais, estaduais e federais não se prepararam para o aumento dos casos oncológicos. “A demanda é crescente e desconhecida. Calcula-se que cerca de 30% a 40% dos pacientes fluminenses não chegam ao diagnóstico, ou chegam a ele, mas não têm acesso ao tratamento e acabam não resistindo à doença”, declarou Saltz, que fez críticas às autoridades por tamanho despreparo.

Para os chefes de serviço, a Lei 12.732/2012, conhecida como a Lei dos 60 dias – que assegura aos pacientes com câncer o início do tratamento em no máximo 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário, no Sistema Único de Saúde (SUS) –, não está sendo respeitada.

“Realmente é um absurdo. Não se trata apenas de um caso, mas de vários, então medidas precisam ser tomadas o mais rápido possível. É triste ver a dimensão que essa situação está atualmente e a tendência é piorar. O CREMERJ vai cobrar das autoridades uma solução”, afirmou o presidente do Conselho, Pablo Vazquez.

O subchefe do serviço de oncologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Bruno Vilhena, apontou o Sisreg como uma boa ferramenta, mas que necessita de melhorias para o funcionamento de forma eficiente. Já o médico da Câmara Técnica de Oncologia do CREMERJ Marco Antônio Polônio ressaltou que a radioterapia vai além da compra de equipamentos e merece a atenção das autoridades.

O diretor do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), José Carlos de Moraes, por sua vez, disse que o Ministério da Saúde licitou a instalação de 84 novas unidades de radioterapia, sendo onze para o Estado do Rio de Janeiro e duas para a capital (hospitais dos Servidores e do Andaraí). Segundo ele, há ainda o propósito de fazer uma rede de atenção e cuidados oncológicos no Rio de Janeiro.

Para a defensora pública do Estado Thaísa Guerreiro de Souza, a reunião foi importante, pois mostrou para a Defensoria o lado dos médicos. “Ouvimos sempre as demandas da população, mas é fundamental também ouvir os médicos. Sabemos que há muitos problemas e precisamos entender o que ocorre nas unidades de saúde”, salientou. 

Para manter ativada a discussão sobre o assunto, os participantes decidiram formar uma comissão especial, em conjunto com a Câmara Técnica de Oncologia do CREMERJ e o capítulo Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), para visitar e fazer um diagnóstico dos serviços de oncologia dos hospitais federais na cidade. Também foi sugerida a realização de um fórum para debater especificamente a regulação de vagas.

O encontro contou ainda com a presença do vice-presidente do CREMERJ, Nelson Nahon, e dos conselheiros Gil Simões e Felipe Victer; da médica Sônia Capellão, do Núcleo Estadual do Rio de Janeiro (Nerj) do Ministério da Saúde; de membros da Câmara Técnica de Oncologia do Conselho; além de chefias dos serviços de oncologia do Instituto Nacional do Câncer (Inca), do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) e dos hospitais federais do Andaraí, Cardoso Fontes, de Bonsucesso, Ipanema, da Lagoa e do Hospital dos Servidores do Estado.