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Telemedicina: CREMERJ é contra projeto da SES

27/08/2012

 

Foi com surpresa e preocupação que o CREMERJ tomou conhecimento da decisão da Secretaria de Saúde do Estado (SES) em substituir pediatras por telemedicina, envolvendo no dito convênio o Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG), instituição tradicional e respeitada na formação e no atendimento a crianças e adolescentes.

A SES afirma que sua motivação é a dificuldade de se contratar pediatras. Entretanto, não faltam pediatras, principalmente no Sudeste. Faltam, isso sim, concurso público, salário digno com piso inicial para 20 horas de trabalho de R$ 9.813 (piso Fenam), plano de cargos, carreira e vencimentos, condições adequadas de trabalho, entre outras coisas.

Equipes precisam ser formadas e mantidas, para que daqui a algum tempo estejam aptas a continuar o que as que hoje estão se dissolvendo fazem há anos, ou seja, treinamento dos médicos mais jovens que chegam às unidades públicas de saúde.

Por que as crianças maiores e adolescentes serão atendidas por “socorristas” e não por pediatras, como acontece hoje? Não podemos admitir isso, a não ser em casos excepcionais, como houve na epidemia de dengue em 2010, quando os pediatras do Rio de Janeiro e demais especialistas deram conta da demanda e fizeram excelente trabalho, apesar da precariedade das unidades de saúde, enquanto que os médicos de outros Estados, chamados pela Secretaria de Saúde “a preço de ouro”, mostraram-se desnecessários. O governo dizia não haver médicos suficientes; em 48 horas, o CREMERJ apresentou aos gestores uma lista com cerca de 400 médicos. Nenhum deles foi contratado, sob alegação de que não se poderia pagar o mesmo que se pagava aos médicos vindos de fora.  

Os pediatras do IPPMG que trabalharem nesse convênio, caso seja assinado, poderão ser, em tese, responsabilizados pelos infortúnios que porventura ocorram com crianças e adolescentes atendidos pelos “socorristas não pediatras”, pois ambos seriam responsáveis pelo atendimento.

Dados das unidades de saúde do nosso Estado dos últimos 10 meses, fruto de fiscalizações e pesquisas do CREMERJ, mostram que faltam médicos em 74% das instituições públicas, em 40% das privadas e em 50% das unidades geridas por OSs. Na rede básica, em 69%; nos hospitais gerais, em 69%; e nas maternidades, em 87%. Em todas as emergências públicas do nosso Estado, municipais, estaduais e federais, faltam médicos. Não faltam só pediatras, faltam médicos de todas as especialidades.

A telemedicina é bem vinda. Ela poderá se tornar uma ferramenta útil se usada com sabedoria e ética, como instrumento complementar, não como substituta de médicos. Todos desejam que o SUS dê certo, que atenda bem às necessidades da população e que possa ensinar bem aos futuros e recém-formados médicos. É preciso nove anos para se formar um pediatra, ou seja, não será com capacitações de algumas semanas, manual de atendimento ou atendimento à distância que o governo poderá substituir pediatras ou outros especialistas para baratear o custo da medicina oferecida.

O CREMERJ entende que a gestão, seja em qual esfera for, deve valorizar o profissional, defender a dignidade do seu exercício e garantir atendimento com humanidade, respeito e excelência à nossa população, que financia o SUS e paga os salários não só dos médicos, mas também dos gestores.

Os médicos não concordam com essa proposta da SES, e o CREMERJ lutará para que a mesma não seja posta em prática em nenhuma unidade pública ou privada do Estado ou do país.


Márcia Rosa de Araujo

Presidente do CREMERJ