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Médicos debatem experiências sobre controle de infecção

15/05/2009

      No Dia Nacional do Controle da Infecção Hospitalar, comemorado nessa sexta-feira, 15, o Cremerj realizou o fórum “Controle de disseminação de micro-organismos multirresistentes. Por que é tão difícil?”, contando com a participação de médicos que venceram as batalhas contra o Enterococo Resistente à Vancomicina (VRE) e o Acinetobacter baumannii tanto em hospitais públicos como privados. A ideia do encontro era dividir experiências e traçar um paralelo entre os procedimentos e dificuldades em cada caso.

      Diretora do Cremerj e responsável pela Câmara Técnica de DIP (Doenças Infectoparasitárias) e Infecção Hospitalar, a Dra. Marília de Abreu Silva ressaltou a importância do evento. “Este fórum tem o objetivo de esclarecer questões importantes e atuais, além de enaltecer os profissionais dessa área por suas atuações. Vamos discutir duas das bactérias mais comuns atualmente, tanto nos hospitais públicos como nos privados. Precisamos compartilhar as informações para nos munir contra essas, e outras, bactérias e evitar problemas futuros”, explicou.

      Coordenador da Câmara Técnica de DIP e especialista da UFRJ, o Dr. Celso Ramos falou sobre o médico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865), responsável pelas descobertas da necessidade de se limpar as mãos com solução clorada e do isolamento de certos pacientes. Na verdade, Semmelweis começou este estudo buscando solucionar as mortes por febre puerperal, e acabou chegando à teoria da higienização dos profissionais de saúde para evitar a transmissão de doenças. “Semmelweis enfrentou muitos obstáculos para provar suas teorias, até mesmo porque tinha problemas quanto à sua personalidade. Mas seu objetivo era prevenir a febre puerperal e, tendo conseguido isso, preocupou-se que o método fosse difundido e usado em outros hospitais.”

      Hoje, sabe-se que a prática de higienização é fundamental, contudo muitos profissionais ainda não são rígidos quanto à frequência da limpeza das mãos, do ambiente e dos materiais. Em razão disso, todos os palestrantes ao longo do evento abordaram a importância da higiene no controle das infecções.

      O fórum pretendeu, também, fazer um paralelo entre as condutas e as dificuldades no controle das duas bactérias no setor público e no privado. A Dra. Magda Conceição, do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), trouxe sua experiência com o surto de Enterococo Resistete à Vancomicina em 2007. Já a Dra Andréa D’Ávila Freitas, do Hospital Pedro Ernesto, falou sobre suas ações no hospital privado. A respeito do Acinetobacter baumannii, a Dra. Ana Lúcia Muñoz Cavalcanti de Albuquerque abordou a visão no hospital público, e a Dra. Márcia Pinto, da Infecto Consultoria, tratou do privado.

      Enterococo Resistete à Vancomicina 
      “No HGB, fizemos um estudo, durante o surto, em que constatamos que a maioria dos pacientes colonizados com o VRE teve passagem pela Unidade de Emergência, que estava com capacidade acima da lotação. A partir daí estruturamos uma conduta que chegou a ter uma equipe separada de profissionais só para atender esses casos e evitar a disseminação”, contou a Dra. Magda Conceição. “Além disso, investimentos em treinamento diferenciado sobre o VRE para todo mundo: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos de laboratório e de radiologia”, acrescentou. “Com a nossa experiência no HGB podemos afirmar que o controle do VRE é possível em ambiente hospitalar”, concluiu.

      Professora assistente de DIP da Uerj e da UGF, a Dra. Andréa Freitas salientou que o determinante para conter a disseminação do Enterococo Resistete à Vancomicina no hospital privado foi o envolvimento das chefias e o treinamento das equipes. “É indispensável que a direção do hospital e os chefes de serviço, seja das equipes médica, de enfermagem ou de limpeza, estejam engajados na causa. Todos devem estar informados e batalhar juntos para evitar mais contaminações.”

      Acinetobacter baumannii
      Trazendo sua experiência com o surto de Acinetobacter baumannii no Hospital da Lagoa, a Dra. Ana Lúcia Albuquerque ressaltou as dificuldades com a aquisição de insumos com urgência e a modificação do comportamento pelos profissionais para evitar a propagação da bactéria. “Apesar disso, conseguimos reduzir o número de casos de pseudomonas aeruginosa e as taxas de infecção da corrente sanguínea através de um plano de ação, do rastreamento do ambiente e do conhecimento de todos os profissionais de saúde sobre a real dimensão do problema.”

      Já a Dra. Márcia Pinto abordou a necessidade de se ter um laboratório capacitado para identificação dos agentes e seu perfil de sensibilidade como importantes ferramentas no controle das infecções no hospital privado. “O envio regular e diário do andamento da cultura e laudos finalizados ajudaram muito no surto do Acinetobacter baumannii que enfrentamos em 2004. Também tivemos um bom apoio logístico para elaboração das curvas de incidência.” Ela contou que a sinalização, o treinamento das equipes e as condições de higiene adequadas no hospital foram facilitadores do controle do problema.

      Ao encerrar o fórum, o infectologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ e membro da Câmara Técnica de DIP do Cremerj Dr. Alberto Chebabo avaliou que as diferenças entre as dificuldades dos hospitais públicos e privados não são determinantes para derrotas e vitórias contra as bactérias, mas sim a compreensão dos profissionais.  “Talvez a principal conclusão que temos desse evento é a afirmação de que não se tem controle de infecção sem a participação efetiva e o comprometimento das equipes de saúde. Somente através dessa conscientização podemos erradicar os surtos de infecções.”