Clipping - Aparelho quebra e deixa pacientes sem cirurgias
Extra / Cidade
19/03/2019
Com fêmur fraturado, mulher está há 14 dias hospitalizada à espera de ser operada
Era segunda-feira de carnaval quando a dona de casa Tatiane
Santos Pontes, de 38 anos, levou um tombo em casa e fraturou o fêmur direito.
Ela foi levada para a emergência do Hospital municipal Pedro II, em Santa Cruz,
na Zona Oeste, e, desde então, vive o que ela chama de “inferno”. Após cinco
dias internada na sala amarela, sem ar-condicionado e com moscas posando sobre
ela dia e noite, conseguiu ser encaminhada para o centro cirúrgico e chegou a
ser anestesiada, mas não foi operada. Um equipamento de raios X chamado arco
cirúrgico, que produz imagens em tempo real para guiar o procedimento, está
quebrado.
— A única informação que recebo é que o aparelho quebrou e
não tem previsão para ser consertado. Assim como eu, outros nove pacientes
aguardam internados sem cirurgia por falta desse equipamento. Não estou mais
suportando ficar nessa cama sem poder me mexer. Desde que cheguei, estou com
sonda urinária, correndo o risco de pegar uma infecção hospitalar — diz
Tatiane.
Segundo ela, no último dia 9, após receber a anestesia e
ser furada para a introdução de um cateter no quadril, os médicos verificaram
que o arco cirúrgico, que guia o procedimento, não funcionava.
A dona de casa conta que, antes de ser levada para a
enfermaria, passou cinco dias na sala amarela:
— Aquela sala é um verdadeiro inferno, sem ar condicionado,
sem ventilador e cheia de moscas. As pessoas choram, gemem, pedem socorro
e ninguém aparece — contou Tatiane, que teme voltar para o
setor após conseguir a cirurgia. — Muitos pacientes operados retornam para lá.
Foi nesse setor que o estado de saúde da mãe de Tamires
Santos agravou. Cristiane da Silva Santos, de 50 anos, deu entrada no Pedro II
no dia 20 de fevereiro. Diabética e hipertensa, ela foi informada de que
precisaria ter um dedo do pé amputado. Operada quase um mês depois, na última
quinta-feira, teve a perna amputada na altura da coxa e morreu no sábado.
— Ela chegou falando, lúcida. O tempo foi passando, eles
enrolando, e a ferida tomou conta de todo o pé da minha mãe, que necrosou.
Foram dois dias sem fazer curativo e, quando abriram, o cheiro “empestiou” a
sala. Ela piorou naquela sala quente, com moscas e ventiladores imundos — disse
Tamires.
Doentes pioram em sala quente e abafada
Na cama ao lado da em que estava Cristiane Santos, uma
idosa internada com quadro semelhante também teve seu estado de saúde agravado.
Lucy Bandeira Lage, de 65 anos, está há 18 dias no Pedro II, aguardando
cirurgia. Diabética, ela foi encaminhada para amputar três dedos do pé.
— Após 13 dias na sala amarela, o quadro piorou, e ela foi
para a sala vermelha. Foi a primeira vez que recebeu um banho. Chegou a ficar
dias sem trocar o curativo do pé. Agora, está no CTI — contou o filho da
paciente, Rodrigo Lage.
A Secretaria municipal de Saúde informou que Tatiane Pontes
aguarda vaga para ser transferida para outra unidade para realizar a cirurgia,
porque o aparelho de que precisa “está em manutenção”. Afirmou também que a
limpeza do hospital e dos ventiladores da sala amarela é realizada regularmente
e que banhos e curativos dos pacientes são feitos diariamente. Sobre a falta de
refrigeração na sala amarela, serão colocados oito aparelhos até a instalação
do arcondicionado central, cujo prazo é de 70 a 90 dias.