Clipping - Prato feito engorda como fast-food, diz pesquisa
O Globo / Sociedade
11/01/2019
Estudo feito em seis países, inclusive no Brasil, mostra que calorias de refeições típicas estão acima do recomendado
Com um dos maiores índices de obesidade do planeta, os
americanos conquistaram a fama de glutões do mundo. Mas não estão sós. Uma
pesquisa realizada em Brasil, China, Finlândia, Índia, Gana e também nos
Estados Unidos revelou que 94% das refeições vendidas em restaurantes populares
contêm mais quilocalorias do que o recomendado pela Organização Mundial de
Saúde( OMS ). Quando setra tadea busardo risco de obesidade, estamos juntos.
Aexceçãoéa China, cujas refeições têm o tamanho apropriado.
A epidemia causa o efeito cascata de aumento de casos de
diabetes do tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. Por restaurantes
populares entenda-se aqueles que vendem comida aquilo, pratos feitos, marmitex
e sua versão gourmetizada, o prato executivo, explica a coordena dorada
pesquisano Brasil Vivian Suen, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Realizada com o apoio da Fapesp, a pesquisa mereceu
destaque na edição desta semana do prestigioso periódico “British Medical Journal”.
O estudo analisou o fast-food, e esse não surpreendeu. Além do pouco valor
nutritivo, engorda. Masa chamada alimentação balanceada do brasileiro de
equilibrada na datem.
Não estamos só comendo pior, mas exageradamente. Muitas
vezes um prato considerado saudável pode engordar mais do que o de um fastfood,
mesmo tendo valor nutricional maior. A quantidade calórica do prato típico —
arroz, feijão, carne e salada — é 33% maior doque adofast-fo od, diz Suen. Isso
acontece porque a salada ganha a companhia de generosas porções de
carboidratos, sejam eles batata, aipim, massas ou farofa. O ovos ejuntaàc arne
e esta, de preferência, ainda ganha queijo. Tudo junto e misturado.
FOME E VONTADE DE COMER
É na balança que os países se igualam. Seja frango, bode ou
carneiro, o destino é a gordura em forma de pneu na barriga, a dita
circunferência abdominal que os médicos medem para aferir riscos para o
coração.
O brasileiríssimo arroz, feijão, frango, mandioca, salada e
pão (841 gramas e 1.656 quilocalorias) corre junto do fufu com carne de bode e
sopa (1.105 gramas e 1.151 kcal), um clássico de Gana. O biryani de carneiro
(1.012 gramas e 1.463 kcal), comum por toda a Índia, é outra companhia de peso.
Uma pessoa adulta deve ingerir por dia de 2 mil (mulheres)
a 2.500 quilocalorias (homens), segundo a OMS. Mas os pratos servidos pelos
restaurantes têm, em média, mil quilocalorias. Só no almoço se ingere quase
todo o necessário por dia, frisa a pesquisadora. Na verdade, a OMS é até
generosa com a ingestão calórica. Para não engordar, as pessoas deveriam
ingerir entre 1.500 a 1.800 quilocalorias diárias, observa Suen.
Segundo ela, um almoço normalmente implica de 70% a 120%
das necessidades calóricas diárias para uma mulher sedentária, cerca de 2 mil
quilocalorias.
O estudo no BMJ analisou o teor calórico de 223 amostras de
refeições populares de 111 refeições de restaurantes de Ribeirão Perto
(Brasil), Pequim (China), Kuopio (Finlândia), Acra (Gana), Bangalore (Índia).
O resultado dos excessos se vê na balança. Hoje, 54% dos
brasileiros estão acimado peso (lei amais no texto ao lado ). Vivian Sue neseus
colegas estão convencidos de que uma parcela da população confunde fome com
vontade de comer. E isso tem explicação.
— Comer é muito bom. Mas muitas vezes comemos mais do que
devemos e nem nos damos conta. Nada tem a ver com fome —diz Suen.
Os pesquisadores reconhecem que, muitas vezes, a comida
funciona como válvula de escape para as durezas da vida. Fugir do sedentarismo
tampouco é fácil em cidades quentes, lotadas, esburacadas e violentas, hostis à
prática de atividade física.
— Sabemos que não é fácil. Mas engordar não pode ser opção
e comida não é refúgio, pois os problemas aumentam —frisa.
Ao buscar refúgio e prazer na comida em excesso, apessoa
acaba aprisionada pela obesidade. Os mecanismos de compensação bioquímica do
cérebro são afetados, e a pessoa perde a noção do exagero e da saciedade. O
organismo precisa de cada vez mais alimento para ter a sensação de saciedade. E
muitas pessoas têm os mecanismos de saciedade normalmente alterados, um
distúrbio que nada tem a ver com força de vontade.
—Obesidade é uma doença. As pessoas precisam ficar atentas
a isso, principalmente, se já têm propensão a ganhar peso. O importante é
prevenir —destaca a cientista.
O grupo dela da USP de Ribeirão Preto trata pessoas com
obesidade mórbida e uma das muitas dificuldades delas é até mesmo se perceberem
como gordas.
Tivemos uma paciente de 300 quilos que só começou a notar
que seu peso era excessivo quando perdeu 100 quilos. Foi só aí, com 200 quilos,
que ela se viu como obesa —explica.
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