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Clipping - Sem maca, grávida é levada no muque

Extra /

12/12/2018


Faltam profissionais, maca, insumos e até alimentação no hospital de Santa Cruz

Crise na Saúde do Rio parece estar longe do fim: um dia após gestante fazer o próprio parto no chão, Hospital Pedro II não ofereceu maca para outra mulher ontem.
Era quase meio-dia quando um homem parou uma picape em frente ao Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz. Desesperado, desceu e entrou correndo, em busca de ajuda para a mulher grávida, aparentemente desacordada. Como ninguém apareceu, ele voltou e a pegou no colo. Nos próprios braços, levou-a para dentro do hospital, que não lhe ofereceu maqueiro.
A cena aconteceu, ontem pela manhã, um dia depois de Paula José da Silva dar à luz no chão da emergência, depois de esperar por 30 minutos, em vão, por um médico. O EXTRA não conseguiu informações sobre o estado da outra gestante. Já Paula e o bebê, que nasceu de oito meses, estão bem, sob observação.
Do lado de fora do Pedro II, não faltam relatos de parentes de pacientes internados sobre a precariedade do atendimento. As críticas são à falta de pessoal, infraestrutura e materiais, medicamentos e até alimentação para pacientes que se alimentam por sonda.
O ambulante José da Cruz, de 52 anos, luta há seis meses por um tratamento digno para a mulher, Conceição Maria de Carvalho Araújo, de 50 anos. Ela procurou várias unidades de saúde do município, em maio, para tentar identificar a origem de uma tosse persistente que não a deixava dormir. Só no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, também da prefeitura, veio o diagnóstico de câncer no pulmão. De lá, ela foi transferida para o Pedro II, que, segundo José, queria lhe dar alta médica.
— Dizem que não há mais o que fazer por ela, que ela tem que ir para casa. Mas se aqui não há recursos, devem mandá-la para outra unidade — diz o marido que, por meio da Defensoria Pública, obteve ordem judicial para que Conceição seja levada para uma unidade especializada.
A decisão, no entanto, ainda não foi cumprida. Irmã da paciente, Maria da Consolação, diz que Conceição não está recebendo nem alimentação por não haver falta pessoal para controlar a sonda gástrica.
— É a fase final da doença, mas ela merece dignidade. Não pode morrer de fome. Está pele e osso — indigna-se.
Os funcionários, da Organização Social gestora, a SPDM, estão com salários atrasados desde novembro e tiveram auxílio-refeição suspenso. Muitos não têm ido trabalhar.
— É falta de dinheiro, não de interesse — diz um enfermeiro.
Por falta de profissionais de enfermagem, o paciente Marcelo Santos, de 28 anos, está há oito dias sem tomar banho no Pedro II, onde está em tratamento de toxoplasmose. A mulher dele, Fabiana Maria, de 39 anos, denuncia também falta de soro e de alimentação:
Não estão fazendo a higiene. E ele precisa se alimentar por meio da sonda, o que não tem sido feito.
Sequestro de recursos
O Tribunal Regional do Trabalho determinou ontem o sequestro de R$ 200 milhões das contas da Prefeitura do Rio. O dinheiro, segundo a desembargadora Rosana Salim, deve ser transferido em 48 horas para as OSs que administram unidades de saúde. Desde segunda-feira, funcionários de clínicas da família, hospitais e UPAs estão em greve porque não receberam o salário de novembro. Só 30% das equipes estão trabalhando. O município informou que vai cumprir a ordem judicial.
Na semana passada, a prefeitura tinha apresentado à desembargadora um cronograma para pagar os vencimentos de novembro apenas no dia 14 de janeiro. Os salários de dezembro e janeiro seriam quitados em 14 de fevereiro e o 13º e o mês de fevereiro ficariam para 14 de março. A magistrada não aceitou a proposta e marcou para ontem nova rodada de negociação. Segundo o “RJ-TV”, da TV Globo, a prefeitura informou que tem apenas R$ 15 milhões em caixa.
E a agonia não deve ser amenizada no ano que vem. O Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2019 enviado pela prefeitura para a Câmara dos Vereadores prevê cortes para hospitais como Pedro II, Albert Schweitzer, em Realengo, e Souza Aguiar, no Centro. A crise deve ser ainda mais severa nas coordenadorias gerais de atenção primária, que perderão R$ 264 milhões no ano que vem: 184 equipes da Saúde da Família serão dispensadas.

O QUE DIZ A PREFEITURA
Sobre oncologia
Em nota, a Secretaria municipal de Saúde (SMS) disse a responsabilidade pela regulação do tratamento de pacientes de oncologia é exclusiva do estado. Afirmou que Conceição “vem recebendo os cuidados indicados para seu quadro clínico e já teve a solicitação de vaga em unidade especializada inserida no Sistema Estadual de Regulação”.

Sem explicação
Sobre os outros pacientes citados, a falta de médicos, maca, insumos, medicamentos e funcionários na unidade, a SMS não se pronunciou.