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Clipping - ‘NÃO É UM TRATAMENTO MÁGICO, MAS TEM SEU LUGAR’

O Globo / Sociedade

17/11/2018


Neurologista israelense afirma que cannabis pode melhorar a vida de crianças com autismo, mas que ela não é solução para tudo

A neurologista pediátrica israelense Orit Stolar dirige o Programa de Intervenção Precoce “Alutaf”, projeto voltado para crianças com autismo. Durante o 1º Congresso Internacional de Medicina Canabinoide, que aconteceu nesta semana, em São Paulo, ela afirmou que o estudo continuado sobre o extrato de cannabis pode ajudar em novas descobertas na saúde.

Qual é a visão no meio médico sobre os benefícios do extrato de cannabis para pacientes?

Há um grande potencial de fazer o bem. Ninguém dizia claramente isso há alguns anos. Afirmavam que era só uma moda, que ali não havia nada. Mergulhei nis sonos últimos cinco anos. Há histórias incríveis que só são possíveis por causa do extrato, que não teriam acontecido com medicamentos convencionais. Mas não é 100% exitoso. Tenho pacientes que usaram e foi um sucesso, com outros foi um desastre. Há um tempo de ajuste até chegarmos ao princípio ativo ideal: CBD ou THC, em que dosagens e de quais fornecedores?

Qual tem sido a maior aplicação do canabidiol no ambiente pediátrico?

Há casos com ótimos resultados para epilepsia e quimioterapias. No caso do autismo, não significa a cura nem a solução definitiva, mas certamente ajuda nos sintomas. Dá ferramentas para que a criança lide com suas dificuldades, se comunique melhor, esteja mais equilibrada. É um trabalho de intervenção no comportamento. Tentei de tudo com um paciente com síndrome de Tourette e não conseguia melhorar a sua vida. Eu sabia que adultos com Tourette usavam extrato de cannabis. Ele tinha 14 anos, decidimos tentar. No início, piorou, e fiquei aterrorizada. Mas fomos ajustando as concentrações até que ele chegou ao melhor ponto de qualidade de vida que já teve. Ainda tem os tiques, mas está muito melhor. Tem vida social, sai com os amigos. Isso levou meses, mas é um garoto diferente agora.

Como você começou a incluir o canabidiol como parte do tratamento com crianças?

Um paciente era tratado comdis piridona( antipsicótico ). Era um caso difícil. Quando volto upara consulta, estava diferente. Perguntei à mãe o que tinha sido feito. Ela disse que estava dando extrato de cannabis a ele. Foi a primeira vez que acompanhei essa diferença. Uma criança que não conseguia ficar sentada na cadeira, era muito agitada. Não é um tratamento mágico, mas tem seu lugar. A medicina convencional muitas vezes tem efeitos colaterais. Começa-se com um medicamento, depois adiciona-se outro e, de repente, temos um paciente de 12 anos usando três remédios. Isso não pode ser bom.

Como é a regulamentação do canabidiol em Israel?

O uso de cannabis medicinal é aprovado para o tratamento de adultos, em casos de dore câncer, entre outros. Com as crianças, a história é outra. Em casos de epilepsia intratável nos quais mais de quatro medicamentos foram tentados sem progresso, consegue-se. Para autismo não há uma indicação aprovada, mas o médico pode escrever ao governo detalhando a situação. Na maioria das vezes é possível. O que mais me preocupa é que as crianças não são adultos. O cérebro está em constante desenvolvimento nessa idade. Sabemos que nosso corpo produz substâncias similares ao CBD ou THC, que estão envolvidas no desenvolvimento do cérebro. Meu receio é que dar uma substância externa que trabalha com o mesmo mecanismo desenvolvido pelo corpo pode causar algum desequilíbrio ou dano. P orisso tenho reservas com o uso de canabidiol para crianças que demonstrem baixíssimos graus de autismo. Precisamos estudar continuamente para ter segurança, levar o tema a sério. Cannabis não é chocolate.

Quais são as próximas barreiras a serem quebradas no uso de canabidiol em crianças com autismo?

Se o canabidiol ajuda no tratamento de crianças com autismo, é porque está envolvido em um processo natural do corpo. Temos estudos que mostram que o nível de amantadina, produzida pelo nosso corpo e semelhante aos princípio sativos nacannabis,ém ais baixo em pacientes com autismo. Então talvez seja um bio marcador, algo ase checar, que deveríamos medir mais em pesquisas. Vemos que o CBD e oTHC funcionam, mas quanto? Nosso corpo tem receptores para eles. M asem que proporção devemos usar? Não podes e rum consumo desenfreado. Há estudo sem curso que mostram que a amantadina, o CBD e o THC se conectam com os mesmos receptores no corpo e estão envolvidos em atividades de desenvolvimento do cérebro da criança, memória, entre outras.

No Brasil, ainda há muita desinformação sobre o uso de canabidiol, o que gera preconceito e entraves para seu uso. O que podemos aprender com os exemplos de Israel?

Médicos são tipos conservadores. Muitos ainda não aceitam o uso de extrato de cannabis para autismo. Fui minoria por muito tempo, mas aos poucos há uma adesão. Quando me perguntam algo que não sei, respondo que é preciso pesquisar mais. Tento ser responsável e não criar falsas esperanças, mas não tenho dúvidas de que o extrato de cannabis tem seu lugar. O preconceito vem da ignorância. Oco meçoé sempre difícil. Conheci muitas pessoas a quique têm filhos com autismo, queéo que as move alutar, a pressionar ogo vernop orleis maisfav oráveis. Pela minha experiência, pais de crianças com autismo são“imparáveis ”.