Clipping - ‘AMEAÇA DE MAIOR EPIDEMIA DA HISTÓRIA’
O Globo / Sociedade
17/11/2018
A epidemia de obesidade que se alastra pelo mundo traz
junto uma ameaça “silenciosa”: a diabetes tipo 2, cujo número de casos vem
aumentando em escala global. Então, combater uma é prevenir a outra, e assim
poupar os sistemas de saúde dos crescentes gastos em seu tratamento, diz Andrew
Boulton, presidente eleito da Federação Internacional de Diabetes. Ele esteve
no Brasil para eventos promovidos pela Sociedade Brasileira do Diabetes (SBD) e
a empresa farmacêutica Servier às vésperas do Dia Mundial da Diabetes, na
última semana. Confira a seguir entrevista exclusiva de Boulton ao GLOBO.
Como
a epidemia de obesidade se relaciona com a diabetes do tipo 2?
Embora a maioria das pessoas obesas não tenham diabetes,
grande parte delas já apresenta resistência à insulina e está sob maior risco
de desenvolver diabetes do tipo 2. Assim, combater a epidemia de obesidade terá
um efeito significativo na redução da incidência da doença.
E
como fazer isso?
São muitos os sinais de alerta que nos ajudam a identificar
aqueles com maior risco de desenvolver diabetes do tipo 2, como obesidade,
histórico familiar etc. Então, em primeiro lugar é preciso instituir programas
nacionais de identificação destas pessoas em alto risco. Todos os aspectos da
luta contra a diabetes devem ter como ponto de partida o princípio da
prevenção.
Qual
o caminho desta prevenção?
Diversos estudos de pessoas com o chamado “pré-diabetes” mostram
que uma dieta saudável e exercícios regulares podem reduzir o risco de
desenvolver a doença em mais de 50%. E não é preciso que o exercício seja
aquele de ir para a academia todo dia. Andar 45 minutos diários já ajuda.
Decisões saudáveis como caminhar no lugar de pegar o ônibus, ou subir escadas
no lugar de pegar o elevador, também têm impacto.
Que
fardo a diabetes já representa para os sistemas de saúde?
A diabetes do tipo 2 já ameaça ser a maior epidemia da
História da Humanidade. A doença consome mais de 10% do orçamento de cuidados
da saúde na maioria das nações e, em alguns países em desenvolvimento, muito
mais do que isso.
O
que poderia ser feito em termos de políticas de saúde?
As políticas de saúde devem não só encorajar dietas
saudáveis e exercícios, mas impor taxas sobre alimentos ricos em carboidratos,
como um “imposto do açúcar”. O planejamento urbano também deve incentivar
caminhadas e uso de bicicletas, com áreas exclusivas para pedestres, ciclovias
etc. Se vamos evitar que esta epidemia piore mais, precisamos agir em todos
níveis governamentais, com as sociedades nacionais de diabetes e endocrinologia
promovendo abordagens preventivas de forma proativa.