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Clipping - Prefeitura decide reduzir Clínicas da Família

Extra / Cidade

04/10/2018


Com a intenção de cortar custos, administração Crivella vai diminuir atendimentos.

Em meio ao caos que tomou as unidades de saúde no Rio, a prefeitura decidiu reduzir o alcance de seu principal projeto de atendimento na rede básica. Até o fim do ano, o Programa de Saúde da Família, que beneficia hoje cerca de 70% da população, recuará ao patamar do início de 2016, quando a cobertura era de 55%. A ideia é que as equipes médicas passem a atuar apenas em 180 áreas consideradas pobres. O município admite que haverá demissões e calcula uma economia de R$ 400 milhões por ano.

O secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Messina, que capitaneia a reestruturação, explica que haverá um redesenho do sistema. Estudo interno da prefeitura definirá o novo alcance do programa. Ele usará como base as regiões com os Índices de Desenvolvimento Social mais baixos do Rio. A lista das comunidades e o número de moradores não foram divulgados.

— A estratégia de Saúde da Família deve continuar nas áreas com mais vulnerabilidade. As pessoas em locais de menor vulnerabilidade serão atendidas de forma ativa, indo até os postos — disse Messina.

Com o novo perfil, quase um milhão de pessoas deve sair do Programa de Saúde da Família. Então, quando um morador de São Conrado, bairro com alto IDS, por exemplo, precisar da rede pública, ele terá que buscar atendimento num centro de saúde. Já o morador da Rocinha, de IDS baixo, continuará a receber tratamento diferenciado, com visitas da equipe médica em casa.

Messina vai reduzir o número de equipes de médicos da família e realocar parte do pessoal em outros setores. Ele também anunciou que vai repactuar os contratos com as Organizações Sociais (OS) que gerem o programa.

— Vai haver demissão, sem dúvida — afirmou. — Os gastos com o programa vão cair de cerca de R$ 1,5 bilhão para R$ 1,1 bilhão.

A prefeitura promete usar o dinheiro das Clínicas da Família em hospitais e unidades de média e alta complexidades, como as que fazem hemodiálise. Essa manobra, segundo Messina, acabaria com as dívidas que o município tem com clínicas, fornecedores e OSs. O orçamento de 2019 para a saúde terá redução de 12%: de R$ 6,01 bilhões para R$ 5,28 bilhões.

Fila para exames, consultas e cirurgias aumenta

A redução no atendimento oferecido pelas clínicas de família não é a única dificuldade que pacientes que procuram a rede municipal de saúde enfrentam. Em pouco mais de um ano, a fila do Sistema de Regulação (Sisreg) para exames, consultas e cirurgias cresceu 62,7%.

Em julho do ano passado, havia 192.648 pessoas no Sisreg, à espera de atendimento, de acordo com o Tribunal de Contas do Município. Informações do sistema obtidas pelo EXTRA mostram que ontem havia 313.578 pedidos de atendimento na fila.

Uma das pacientes que estão esperando por cirurgia é Neli Gentil Silvano, de 61 anos, que ontem contava seu drama no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo. Submetida a uma colostomia em setembro do ano passado, quando foi vítima de uma bala perdida, na Vila Kennedy, ela está há nove meses tentando vaga para retirar a bolsa.

— Desde que fui atingida por uma bala perdida dentro de casa, minha vida mudou. Fui operada neste hospital e precisei de uma colostomia. Os médicos disseram que deveria ficar com o equipamento, no máximo, por quatro meses. Desde então, tento uma vaga para a retirada da bolsa e não consigo — reclamou.

Na semana passada, Neli chegou a ser internada no Albert Schweitzer para ser operada, mas foi dispensada em seguida porque a unidade havia suspendido, segundo a paciente, as cirurgias. Anteontem, ela foi chamada novamente e espera conseguir ter a bolsa retirada hoje.

Em nota, a Secretaria municipal de Saúde afirmou que a “crise econômica fez com que milhares de pessoas deixassem de utilizar o serviço privado de saúde e recorressem ao SUS. Como efeito disso, houve um aumento do número de pessoas na fila do Sistema de Regulação”. O órgão informou que Neli será operada nos próximos dias.

LISTA Ontem, tinha 313.578 pessoas cadastradas, 62,7% a mais que em julho do ano passado

 

 

 

Especialista critica medida do município

Entre políticos e especialistas em saúde pública, a medida é controversa. A presidente da Associação de Medicina de Família e Comunidade do Rio, Rita Helena Borret, destaca a economia para o sistema de saúde quando se investe mais no atendimento primário.

— O Rio economiza R$ 40 milhões por ano em internações graças ao Programa de Saúde da Família. Quando não há atenção primária, as doenças se agravam. O custo da consulta numa unidade de emergência é o dobro do valor numa unidade básica. Diabetes, hipertensão e outras doenças, se acompanhadas por uma equipe na atenção primária, não vão se agravar.

Já o subsecretário-geral executivo da Secretaria municipal de Saúde, Alexandre Campos, afirma que houve superdimensionamento da atenção básica. Para ele, a medida ajudará a corrigir um erro e a reduzir gargalos na fila do SUS.