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Clipping - Não respeitam a vida de ninguém

Exame / Cidades

11/08/2018


Segundo dados do Sisreg, 201 pessoas aguardam vaga de UTI adulta na cidade do Rio 

Seu Jonas, de 68 anos, foi obrigado a esperar por atendimento no Hospital Pedro II, em Santa Cruz, deitado num banco de concreto ao relento, durante quatro horas.

Após quatro horas esperando, ao relento, o resultado dos exames deitado num banco de concreto na porta da emergência do Hospital municipal Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste, o aposentado Jonas dos Reis Lima, de 68 anos, aguardou outras duas horas numa cadeira de ferro, na sala de espera do setor, até conseguir que o médico visse o resultado do hemograma e o internasse na sala vermelha. A maca, que a filha do idoso pediu desde a chegada à unidade, na tarde de quinta-feira, enfim apareceu às 23h30. E é nessa maca de transporte que o idoso permanece, apesar de necessitar de leito de UTI. Um andar acima, dez leitos de terapia intensiva contratados pela prefeitura estão fechados desde fevereiro.

O caso de Jonas não é isolado: 201 pessoas aguardavam ontem vaga de terapia intensiva adulto no município do Rio. De acordo com dados da Central de Regulação (Sisreg), 33 solicitações de vagas estavam acompanhadas de mandados judiciais, sendo 12 reiterações, porque não foram cumpridas no prazo determinado pelo juiz. A plataforma mostra, no entanto, que havia um leito livre no Hospital municipal Evandro Freire, na Ilha, e 41 bloqueados (um no CER Leblon, 20 no Albert Schweitzer, um no Miguel Couto, um no Hospital da Piedade, dez no Pedro II, sete no Ronaldo Gazolla e um no Souza Aguiar). Dados do Sisreg indicavam também três leitos livres no Hospital Federal Cardoso Fontes, dois bloqueados na UTI coronariana do Federal de Bonsucesso, três no Federal da Lagoa e cinco no Federal do Andaraí. No total, quatro leitos livres e 51 bloqueados.

— Meu pai está urinando pus. Ele é deficiente físico, cadeirante, está gemendo de dor, não consegue ficar sentado. Eu pedi uma maca e disseram que não podiam dar. Tinha que esperar o maqueiro, que nunca aparece. O lugar que consegui deitá-lo foi neste banco de concreto. Se tiver que morrer, morre aqui — disse Lilian Jane Libania Pereira, de 55 anos, filha de Jonas.

O idoso era amparado no banco pela companheira, Antônia Libania, de 75 anos.

— Nem um animal é tratado dessa forma. As pessoas estão sem compaixão. É muito triste. Ele é ser humano — desabafou Lilian.

Ação pede mais leitos

Após uma semana internado na emergência do Pedro II, Francisco Osório de Souza, de 20 anos, conseguiu ser transferido na noite de quinta-feira para uma vaga no Instituto Estadual do Cérebro. Segundo a família, no hospital de Santa Cruz, ele recebia apenas remédio para dormir.

No início da semana, a Defensoria Pública do Rio entrou com uma ação civil pública pedindo a reabertura de 36 leitos de UTI nos hospitais Pedro II e Albert Schweitzer. Os leitos estão fechados há nove meses. A Defensoria destaca que até três pessoas morrem por dia à espera de uma vaga, mais de 80 por mês, segundo relatórios elaborados a partir de dados do Plantão Judiciário prestado pelo órgão.

A SMS informou que Jonas, enquanto aguardava o resultado do exame, foi encaminhado para a sala de medicações e segue recebendo os cuidados indicados. Sobre Francisco, a pasta afirmou que ele foi transferido assim que surgiu vaga. A secretaria afirmou que a organização social SPDM, que administra a unidade, está sendo cobrada pela reabertura dos dez leitos de UTI. Sobre os 20 leitos interditados no Albert Schweitzer, a SMS alega necessidade de obras estruturais no setor. O Ministério da Saúde informou que está abrindo 28 leitos de CTI nos seis hospitais no Rio.

‘Diziam que era manha. Ele tem um tumor’

RAILANE DE SOUZA. Estudante e namorada de Francisco Osório de Souza

Há um mês, Francisco procura atendimento no Pedro II com forte dor de cabeça. Davam remédio para dormir e liberavam. Nas últimas vezes, mandavam ele para a UPA, diziam que era manha e que não adiantava mais ir até lá porque não fariam nada. Na sexta, dia 3, ele parou de reconhecer a família e o trouxemos para cá. Imploramos por uma tomografia. Descobriram um tumor no cérebro.