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Clipping - Hospital de Bonsucesso enfrenta crise

O Globo / Rio

09/07/2018


Pacientes e médicos denunciam falta de remédios e funcionários 

Antônio Ernesto Correia, de 70 anos, está há 12 dias sentado numa cadeira da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Ele tem câncer terminal na bexiga e ainda não conseguiu um leito. Seu drama é acompanhado por médicos e enfermeiros que pouco podem fazer: segundo eles, além de camas para pacientes, faltam insumos, remédios e profissionais de várias especialidades.

— Meu pai está com muitas dores. Para piorar, não tem uma cama; ou seja, não consegue descansar direito, não passa as noites com um mínimo de conforto e dignidade — reclamou Flaviane Antunes, filha de Antônio.

O GLOBO teve acesso a uma lista de 27 itens que estariam em falta no HFB, elaborada no último dia 22 pelo corpo clínico da instituição. Segundo médicos, o hospital se encontra há quase dois meses sem parte desse material. A direção, no entanto, nega o desabastecimento. A Defensoria Pública da União enviou um ofício à unidade requisitando informações sobre o estoque de sua farmácia.

A resposta deve ser entregue nesta segunda-feira (hoje). Quando chegar, vou compará-la com as informações prestadas por diretores médicos. Caso sejam diferentes, irei à farmácia do hospital — disse o defensor público da União Daniel Macedo.

TRATAMENTO INTERROMPIDO

Enquanto o impasse persiste, pacientes sofrem com a escassez de recursos do HFB. A dona de casa Eliana Silva de Oliveira contou ontem que, na última sextafeira, recebeu uma ligação da unidade na qual foi informada que a sessão de quimioterapia marcada para hoje está cancelada por falta dos dois medicamentos. Ela faz tratamento contra um linfoma.

A sessão de quimioterapia de Eliana foi remarcada para o fim do mês, mas não está garantida. Um funcionário do HFB avisou que entrará novamente em contato para dizer se os medicamentos necessários chegaram.

— Comecei o tratamento há cinco meses. Nos dois primeiros, a medicação estava completa. Depois, começou a faltar um dos medicamentos. Agora, faltam dois, e o atendimento que eu recebia teve de ser interrompido. Seriam minhas duas últimas sessões — contou a dona de casa, emocionada.

A emergência do hospital também apresenta problemas. Profissionais do setor afirmaram que, com frequência, funcionários são orientados a não abrir boletins de atendimento, já que médicos e enfermeiros não estão conseguindo dar conta dos pacientes.

Ontem, do lado de fora do HFB, havia duas faixas com agradecimentos “da comunidade” à direção do hospital por manter a emergência aberta. Funcionários contaram à equipe de reportagem que foi um assistente da diretoria que as pendurou numa grade.

O médico Júlio Noronha, cirurgião do HFB e representante da Federação Nacional dos Médicos, disse que o plantão da emergência estava sem ortopedista ontem e que, desde o domingo retrasado, não há clínicos no setor durante o dia.

— Temos um déficit de aproximadamente 150 médicos de várias especialidades — afirmou Noronha.

Em nota, o HFB negou que a direção tenha estendido as faixas, mas confirmou a interrupção da abertura de boletins de atendimento “para não reduzir a qualidade de tratamento dispensada”. Ainda segundo a unidade, o paciente Antônio Ernesto Correia está recebendo tratamento e será transferido para um leito “assim que houver disponibilidade”. Por fim, a instituição prometeu apurar o motivo da interrupção do tratamento de Eliana Silva de Oliveira.