Clipping - Socorro reduz risco de morte com cortes
O Globo / Sociedade
30/06/2018
Sangramentos como de mulher morta ao se ferir com taça não são tão raros
O caso de Tamara Maiochi, de 30 anos, que morreu em Itatiba
(SP) na última quarta-feira ao se ferir no pescoço com uma taça de vinho
quebrada enquanto comemorava a vitória do Brasil no jogo contra a Sérvia chamou
a atenção para a necessidade de conhecer técnicas de primeiros socorros em
acidentes que têm hemorragias como consequência. Ainda mais porque episódios
assim não são tão incomuns, alerta o médico Julio Peclat, diretor da Sociedade
Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).
Ele explica que sangramentos fatais como o que provavelmente vitimou Tamara geralmente ocorrem por lesões em artérias de maior calibre (grossura), apesar de normalmente este tipo de vaso sanguíneo ficar em regiões mais profundas que as veias. A mais comum de ser atingida e provocar casos do tipo é a artéria femoral, na coxa, ou sua “irmã”, a veia femoral, como aconteceu no episódio do sargento da Marinha Fábio dos Santos Maciel, em 2012.
TRAGÉDIA NO CASAMENTO
Em novembro daquele ano, Maciel saía de sua festa de
casamento com uma tulipa de vidro no bolso da calça, que resolveu levar como
lembrança. Numa brincadeira com uma das madrinhas, ele correu atrás dela e
acabou tropeçando na calçada. O copo quebrou e cortou a veia femoral do
sargento, que morreu a caminho do hospital.
— Não raro recebemos pacientes em emergências com lesões
deste tipo, geralmente na artéria femoral — conta Peclat. — Apesar de mais
profunda, um objeto perfurocortante num bolso pode ser o suficiente para furar
a perna e provocar um vazamento de sangue significativo. E embora lesões nas
veias também possam levar à morte, isso é mais difícil de acontecer, já que a
pressão é muito menor que nas artérias.
Outros pontos vulneráveis a acidentes assim apontados por
ele são as artérias carótidas e suas ramificações em ambos lados do pescoço,
cuja lesão pode provocar morte por hemorragia ou sufocamento, uma possibilidade
que o especialista também levanta para o caso de Tamara.
— Outro grande problema de lesões no pescoço é uma
hemorragia mais interna levar à formação de um hematoma que comprime a traqueia
e outras vias respiratórias, provocando a morte por sufocamento, mesmo que não
haja um sangramento volumoso aparente — diz o cirurgião.
Por fim, também são muito perigosas e sujeitas a
sangramentos fatais as artérias localizadas nas axilas e a braquial ou umeral,
na parte superior dos braços, antes dos cotovelos. Veias que vemos nos braços
também podem ser atingidas em acidentes domésticos e sangrarem bastante. Peclat
recomenda que, nesses casos, quem estiver por perto deve fazer compressão no
local do ferimento para estancar a hemorragia até a chegada a um
pronto-socorro.
— Se tiver, coloque uma luva, mas se não, pode ser uma
toalha ou a própria camisa e faça uma compressão vigorosa o bastante para conter
o sangramento, sem aliviar a pressão até o atendimento especializado —
aconselha. — Vemos na TV as pessoas usando torniquetes, mas são exceções e
podem provocar complicações, como danos nos nervos. A compressão efetiva do
ferimento não deve ser nem leve, nem forte, mas suficiente para interromper a
hemorragia.
Além da femoral, as artérias mais vulneráveis a acidentes
são as localizadas no pescoço, axilas e parte superior dos braços