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Clipping - Remédio para doença grave está em falta na farmácia do estado

O Globo / Rio

20/06/2018


Saúde de pacientes com hipertensão arterial pulmonar piora

Aos 43 anos, a administradora de empresas Francisca Adriana Souza Lopes sente falta de ar ao realizar tarefas como tomar banho, preparar uma refeição ou arrumar a cama. Deveriam ser afazeres simples, mas tornam-se desafios para quem sofre de hipertensão arterial pulmonar (HAP). Para controlar os sintomas da doença, que é rara, grave e sem cura, ela faz uso regular de medicamentos distribuídos gratuitamente pelo estado. O fornecimento, no entanto, está interrompido há pelo menos três meses, segundo pacientes, prejudicando a rotina de quem se trata em centros de referência como a Policlínica Piquet Carneiro, no bairro São Francisco Xavier, e o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Ilha do Fundão.

Francisca, que descobriu ter a doença em 2015, faz uso de quatro remédios. Entre eles, Bosentana 125mg, um vasodilatador, cuja caixa para um mês de tratamento custa de R$ 2.200 a R$ 4.600. A última vez que ela retirou o medicamento na Rio Farmes, a farmácia do estado, foi no dia 21 de fevereiro. Desde então, não consegue mais o remédio.

Estou começando a enfrentar de novo todos os sintomas que eu sentia antes de iniciar o tratamento. Não posso nem andar sozinha na rua. Antes, eu usava o oxigênio só para dormir. Hoje, preciso usar o dia todo — disse a administradora, que mora na Vila da Penha e se trata na Piquet Carneiro.

 

TROCA DE MEDICAMENTO

 A servidora pública Adriane Pereira Gouveia, de 36 anos, foi diagnosticada com a doença em 2016, mas, durante grande parte do tratamento, comprou o medicamento por conta própria. Na época, a caixa do Bosentana 125mg custava cerca de R$ 700. Após um aumento súbito do valor, a paciente recorreu ao estado. Conseguiu retirar a primeira caixa em março. Depois, o remédio deixou de ser distribuído.

— Liguei diversas vezes para a Rio Farmes e até mandei e-mail para a Assembleia Legislativa, mas ninguém me ajudou — contou Adriane, que mora em Campo Grande.

A solução encontrada por Adriane para evitar o agravamento dos sintomas foi aumentar ligeiramente a dose de outro medicamento, o Sildenafil, que é menos eficaz no controle da HAP.

Para Beatriz Caroline Silva Anjo, moradora de Caxias, o diagnóstico chegou aos 20 anos. Estudante de pedagogia na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, da Uerj, ela está com dificuldades para manter a rotina de estudos. No início do tratamento, há dois anos, a universitária conseguia acompanhar o ritmo, mas, desde fevereiro, está sem receber o medicamento do governo.

— Nos dez minutos de caminhada da minha casa até o ponto de ônibus, preciso parar quatro vezes. Antes, quando eu tomava o remédio, fazia apenas uma parada — lamentou Beatriz.

A HAP afeta, geralmente, mulheres de 20 a 50 anos. Na década de 1990, a sobrevida média de pacientes com a doença era de dois anos e meio a quatro anos. Atualmente, pode chegar a dez anos.

Segundo o pneumologista Renato Azambuja, da Rede D’Or São Luiz, o tratamento consegue impactar de forma significativa os sintomas, mas não diminui a mortalidade da doença.

— O tratamento permite que a pessoa continue funcional, realizando atividades do seu dia a adia por mais tempo — explicou o especialista. — Com a evolução da doença, o paciente pode chegar a uma incapacitação funcional grave, vindo a precisar de um transplante de pulmão.

A Secretaria de Saúde informou que o processo de compra do Bosentana está em andamento. Havia, segundo a pasta, uma discussão em relação ao preço do remédio. Os recursos para a compra são do Ministério da Saúde.