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Clipping - EU MOVI BARREIRAS POR EXAMES

Extra / Cidade

08/05/2018


Pedagoga conseguiu análise que está suspensa no Rio Imagem. Mas esperou 105 dias por quimioterapia

Entre sentir um caroço na mama e receber o diagnóstico de câncer, a pedagoga Lucimar de Pinho, de 45 anos, atravessou um ano de espera por consultas, exames pagos em clínicas privadas, entrega de trabalho final na faculdade, doença e morte da mãe. Até que no último dia 28 de setembro, recebeu o laudo positivo da biópsia feita no Rio Imagem. Apesar de já saber, no fundo, que tinha a doença. Foi um choque.

O câncer havia avançado naqueles 12 meses. O seio estava inchado e o mamilo, retraído. Ao receber o diagnóstico, teve a sorte de ser inserida numa pesquisa que acompanhou cerca de 200 pacientes com câncer de mama, no Rio Imagem, centro de diagnóstico por imagem do estado, entre julho e dezembro de 2017. Nesse projeto, Programa de Navegação do Paciente (PNP), todas as mulheres tiveram acesso aos exames pré-operatórios e ao painel de imuno-histoquímica, que está suspenso na rede estadual.

— Esse exame é fundamental para determinar o estadiamento do tumor e, com isso, o tratamento. O Rio Imagem não estava fazendo desde junho de 2017, quando reabriu. Esta era a primeira barreira que identificamos para a chegada da paciente ao tratamento no prazo que a lei determina, 60 dias — diz a médica Sandra Gioia, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Rio, que coordenou a pesquisa.

Com o PNP, a médica mostrou a importância de a paciente chegar ao hospital já com a imuno-histoquímica pronta. Como o EXTRA mostrou no primeiro dia da série “Uma luta dolorosa”, publicada neste domingo, a Lei dos 60 dias não é cumprida em 70% dos casos de câncer de mama no estado.

A Secretaria estadual de Saúde afirma que o “diagnóstico do câncer de mama, que inclui consulta, mamografia e imuno-histoquímica, é atribuição municipal”, mas que voltará a oferecer o exame no Rio Imagem.

Uma barreira a menos, no entanto, ainda não foi suficiente para que Lucimar fosse atendida no Instituto Nacional de Câncer (Inca) dentro do prazo máximo determinado pela Lei dos 60 dias.

A primeira consulta com mastologista no Inca foi marcada para 14 de novembro, 47 dias após o laudo da biópsia.

— Aceitaram os exames que adiantei no Rio Imagem, mas fiz tomografia e cintilografia numa clínica particular que dá desconto quando se leva uma guia rosa. Demoraria muito no Inca — conta Lucimar, que iniciou a quimioterapia no dia 11 de janeiro, 105 dias após o diagnóstico.

De acordo com o Inca, o tempo médio de espera na instituição para realizar cintilografia, solicitada para alguns tipos de quimioterapia, é de 30 dias. O instituto afirma, no entanto que, após a indicação da quimioterapia, a paciente leva em média 15 dias para iniciar o tratamento.

Faltam hospitais no estado

De acordo com o Plano Estadual de Atenção Oncológica, o estado do Rio tem 25 unidades habilitadas para tratar câncer. Precisaria de outras 14 unidades para atender a uma portaria do Ministério da Saúde, de 2014, que determina o número de hospitais de referência de acordo com o número de habitantes. Nesse cenário, criar fluxos que priorizem pacientes com tumores agressivos ou em estágio avançado é fundamental.

— O mais importante é ter um fluxo acelerado para tumores com características mais agressivas. Para isso, é preciso ter um divisor de águas, que são os exames de estadiamento do câncer, como tomografia, raios X e, principalmente, o painel de imuno-histoquímica. Ele é que vai apontar a agressividade do tumor — diz Cláudia Brito, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz.

Com base em dados do Sistema Estadual de Regulação (SER), levantamento realizado pela mastologista Sandra Gioia revelou que, após o diagnóstico do câncer de mama, as mulheres aguardam em média dois meses para a primeira consulta com mastologista, cinco meses para operar, e de dois a três meses para iniciar a quimioterapia.

‘Quando soube, achei que morreria em 1 mês’

LUCIMAR DE PINHO 45 anos, pedagoga, mãe de dois meninos

Nunca havia feito mamografia, até que, em agosto de 2016, senti um caroço na mama. Fiquei com medo e assustada. Mas ele desaparecia e voltava com a menstruação. Até que, em dezembro, ele ficou permanente e decidi procurar o posto de saúde de Rio da Prata, em Campo Grande. Custei a conseguir consulta com ginecologista. Paguei todos os exames que pude para adiantar o diagnóstico. E quando recebi a notícia, achei que ia morrer em um mês. Tive apoio de amigos e da família. Foram eles que me fizeram ir adiante. Tenho dois filhos, de 8 e 11 anos, para ver crescer. Isso me dá uma força incrível. Vou em frente.