Clipping - Exame pode identificar autismo em bebês aos 3 meses de idade
O Globo / Sociedade
02/05/2018
Diagnóstico precoce permite que tratamento comece mais cedo
O diagnóstico de autismo é desafiador, especialmente no
início da vida. Mas um novo estudo publicado na revista “Scientific Reports”
mostra que exames de eletroencefalograma (EEG), que medem a atividade elétrica
cerebral, poderiam indicar com precisão ou descartar o transtorno do espectro
do autismo (TEA) em crianças, mesmo aquelas que têm apenas três meses de idade.
— São exames baratos, não invasivos e relativamente fáceis
de serem incorporados às sessões de check-up do bebê — diz Charles Nelson,
diretor dos Laboratórios de Neurociência Cognitiva do Hospital Infantil de
Boston e coautor do estudo. — Sua confiabilidade em indicar se uma criança
desenvolverá autismo levanta a possibilidade de intervir no transtorno muito
cedo, bem antes de surgirem sintomas comportamentais claros.
O estudo analisou dados de um projeto do hospital que
procura identificar o risco de desenvolvimento de TEA e de dificuldades de
linguagem e comunicação em crianças.
Professor de Informática em Saúde da Universidade de San
Francisco, que trabalha em conjunto ao Hospital Infantil de Boston, William
Bosl trabalha há quase uma década com algoritmos que interpretam sinais de EEG,
as sinuosas linhas geradas pela atividade elétrica no cérebro. Sua pesquisa
mostra que mesmo um exame que parece normal contém dados “profundos” que
refletem a função cerebral, padrões de conectividade e estruturas que só podem
ser encontrados com algoritmos de computador.
AVALIAÇÕES PERIÓDICAS
A equipe do hospital
de Boston forneceu a Bosl dados de exames de 99 bebês considerados propensos a
desenvolver autismo (pois tinham um irmão mais velho com o diagnóstico) e 89
considerados de baixo risco (sem um irmão afetado). Os EEGs foram realizados
aos 3, 6, 9, 12, 18, 24 e 36 meses de idade, com o uso de uma rede com 128 sensores
sobre o couro cabeludo dos bebês. Todos foram submetidos a extensas avaliações
comportamentais, como um cronograma para observação do diagnóstico.
Os algoritmos computacionais de Bosl analisaram seis
diferentes frequências do EEG — alto gama, gama, beta, alfa, teta, delta —,
usando índices que verificam a complexidade dos sinais. Estas medidas podem
refletir diferenças em como o cérebro é conectado e de que forma ele processa e
integra informações.
Na pesquisa, os algoritmos previram um diagnóstico clínico
de TEA com alta especificidade e sensibilidade. A taxa de acerto chegou a 95%
em algumas idades.
— Os resultados foram impressionantes — comemora Bosl. —
Nosso índice de acerto para os bebês com 9 meses de idade foi quase absoluto.
Também conseguimos prever a gravidade do TEA com confiabilidade bastante alta.
Para Bosl, as primeiras diferenças na complexidade do sinal
podem estar ligadas ao fato de que o autismo é um distúrbio que começa durante
o desenvolvimento inicial do cérebro. A partir daí, no entanto, o transtorno
pode seguir diferentes trajetórias. Em outras palavras, uma predisposição
precoce ao autismo pode ser influenciada por outros fatores ao longo do
caminho.
Acreditamos que as crianças que têm um irmão mais velho com
autismo contariam com maior possibilidade de desenvolver o transtorno — explica
Nelson. — O aumento desse risco, talvez interagindo com outro fator genético ou
ambiental, leva algumas delas a desenvolver autismo.