Clipping - Casos de chicungunha avançam no estado
O Globo / Rio
19/04/2018
Nos três primeiros meses do ano, Rio registrou 4.262 casos da doença, quase o total do ano passado
Depois de epidemias de zika e dengue, o Rio agora enfrenta
uma explosão de casos de outra doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti
.O número de vítimas do vírus chicungunha explodiu no estado. Somente nos três
primeiros meses deste ano, foram 4.262 notificações da doença, contra 1.585 no
mesmo período de 2017 — um aumento de 168%. O total entre janeiro e março de
2018 quase alcança o número de registros do ano passado inteiro, que teve 4.305
infectados.
Na capital, a situação também preocupa. De janeiro a março,
1.139 moradores contraíram a febre, contra 988 no mesmo período do ano passado.
A região mais afetada na capital, segundo a Secretaria municipal de Saúde, é a
Zona Oeste. Os bairros de Campo Grande e Guaratiba registraram 469 casos nos
três primeiros meses do ano.
A Secretaria estadual de Saúde não informou quais regiões
do estado são as mais afetadas. Niterói, no entanto, é uma das cidades que
vivem um aumento de casos. De acordo com a prefeitura e a Fundação Municipal de
Saúde, entre 1º de janeiro e 10 de abril, foram notificados 665 casos de
suspeita da doença. O número representa um crescimento de quase 119% em relação
às 304 notificações registradas nos quatro primeiros meses do ano passado.
Para especialistas, a chicungunha tem avançado por dois
motivos: a quantidade ainda alta do vetor e o fato de quase toda a população
estar suscetível ao vírus, já que ele circula há pouco tempo no Brasil (desde 2014).
Segundo Alexandre Chieppe, médico da Secretaria estadual de Saúde, há anos as
autoridades esperam que o vírus circule de forma intensa por todo o território
fluminense, assim como aconteceu em alguns países da América Central.
— A chicungunha é uma doença relativamente nova aqui no
Brasil. Ela nunca circulou de uma forma muito intensa aqui no Rio, como
esperamos já há alguns anos. O vírus tem se comportado aqui de forma diferente,
em surtos isolados e localizados. Ainda é um número aquém do que acontece em
outras regiões, mas acende um alerta — diz.
O infectologista Edimilson Migowski tem um discurso
parecido com o de Chieppe e diz ainda que o aumento de casos de chicungunha
pode estar também relacionado ao crescimento do conhecimento médico sobre a doença,
muitas vezes confundida com dengue.
— Os médicos estão começando a reconhecer melhor o que é
chicungunha, que tem um quadro clínico muito parecido com zika e dengue. Isso
pode ter aumentado as notificações da doença — observa.
Mesmo com o fim do verão e das chuvas frequentes, que
favorecem a proliferação dos mosquitos transmissores do vírus, Migowski
acredita que o número de vítimas possa continuar estável.
A tendência é que a população dos insetos reduza com a
diminuição das chuvas e da temperatura, mas, como boa parte da população ainda
é suscetível ao vírus, mesmo poucos mosquitos são suficientes para fazer
vítimas dessas novas doenças — diz.
PRÓXIMO VERÃO PODE SER PIOR
O infectologista e coordenador de vigilância em saúde da
Fiocruz, Rivaldo Venâncio, alerta para o caráter agressivo da doença. Segundo
ele, essa é uma característica própria do vírus, que causa inflamações e fortes
dores nas articulações por meses e, em alguns casos, até anos.
Ainda de acordo com ele, a tendência é que o próximo verão
apresente um número ainda maior de casos de chicunghunha. A melhor forma de
evitar a disseminação da doença é, segundo ele, promover desde já um esforço
conjunto entre poder público e população.
— Se eu tenho a população suscetível e condições ambientais
como, abundância de chuvas e temperaturas elevadas, o mosquito pode circular.
Não deveríamos ter índices de infestação tão elevados. A população pode ajudar,
evitando objetos que acumulam água e criam um ambiente propício para o Aedes
aegypti. Essa mesma população também deve cobrar que o poder público faça sua
parte — defende o médico.
Chieppe diz ainda que o estado está tomando as medidas de
prevenção contra a doença. Segundo ele, todos os municípios são obrigados a
elaborar planos de contingência e a enviá-lo para a Secretaria de Saúde após
aprovação do Conselho Municipal de Saúde. Também há ações feitas por cada
prefeitura com apoio do estado em lugares onde é observada infestação do vírus.
Nesses locais, ressalta Chieppe, há visitas domiciliares para identificação de
focos e, caso necessário, uso de carro fumacê nas ruas. Agentes de saúde também
pulverizam as áreas mais afetadas pelo mosquito com equipamentos emprestados
pelo estado.
SAIBA MAIS
SINTOMAS: São semelhantes aos da dengue e da zika. As três doenças provocam febre alta, acima de 38,5 graus, dores de cabeça, manchas vermelhas na pele e vômitos. Mas, no caso da chicungunha, as vítimas têm também dores intensas nas articulações de pés e mãos — dedos, tornozelos e pulsos.
TRANSMISSÃO: Após a picada do Aedes aegypti, os sintomas aparecem de dois a dez dias, podendo chegar a 12 dias. Esse é o chamado período de incubação. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 30% dos infectados não chegam a desenvolver sintomas. Também existe transmissão de mãe para filho no momento do parto e por transfusão sanguínea.
PRECAUÇÃO.
Não há vacina contra a doença. O melhor é evitar a
proliferação do mosquito transmissor, combatendo o acúmulo de água parada. É
necessário tampar caixas d’água, tirar pratinhos de plantas e esvaziar pneus
com água acumulada, entre outras medidas.