Clipping - Três doentes morrem por dia à espera de UTI
O Dia Online / Rio
03/03/2018
Dados da Defensoria Pública mostram somente óbitos de quem recorre a plantão judiciário para obter vaga
Mais da metade das pessoas que recorrem ao Plantão Judiciário
para conseguir uma vaga em UTI morrem antes que o poder público cumpra a ordem
judicial determinando a internação. São até três pacientes por dia que sequer
têm a chance de lutar para sobreviver. Os dados são de um levantamento feito
pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ), que enviou
recomendação à Prefeitura do Rio para que sejam imediatamente reativados 35
leitos de UTI que estão fechados, 20 deles no Hospital Albert Schweitzer, em
Realengo, e 15 no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz.
No documento, entregue à administração municipal no último
dia 22, a Defensoria Pública lembrou que há mais de dois anos vem ajuizando
cerca de 150 ações por mês no Plantão Judiciário noturno pedindo vagas em
leitos de terapia intensiva em hospitais municipais e estaduais e, que, mesmo
com o pedido de urgência, o índice de mortes por falta de lugar disponível é
extremamente elevado.
— É lamentável e inadmissível que em um contexto em que
morrem diariamente até três pessoas por dia por falta de acesso a leitos de
terapia intensiva (contabilizando apenas as que entram com ações no Plantão
Judiciário noturno), o município do Rio de Janeiro ainda bloqueie quantitativo
significativo de leitos de UTI — destacou a coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva
da DPRJ, Thaisa Guerreiro.
O documento, elaborado pelas coordenadorias de Saúde e
Tutela Coletiva e pelo Núcleo de Fazenda Pública e Tutela Coletiva da
Defensoria, foi enviado ao prefeito Marcelo Crivella e ao secretário municipal
de Saúde, Marco Antônio de Mattos. Ele estabelecia um prazo de 48 horas para
resposta, mas, segundo a Defensoria, até ontem a prefeitura não havia se
pronunciado.
As defensoras entraram com o pedido de reabertura de leitos
baseadas em inspeções nos hospitais e no Relatório Estatístico de Atendimentos
do Plantão Judiciário noturno, que constatou, em maio de 2017, que apesar de “o
número de demandas buscando leitos de terapia intensiva ter se mantido
constante, o índice de óbitos aumentou, ao que tudo indica, em função do aumento
do tempo de cumprimento das decisões liminares”. O documento informava ainda
que “a desativação dos referidos leitos de terapia intensiva é um retrocesso
social e só contribuirá para a elevação do já elevado índice de óbitos da
população carioca”.
Segundo a Defensoria, durante uma inspeção, no ano passado, no Hospital Albert Schweitzer, foram encontradas “inúmeras irregularidades no funcionamento da unidade que colocam em risco a saúde e a vida dos cidadãos”, estando entre elas a desativação de 20 leitos de terapia intensiva por problemas estruturais no setor. Defensores voltaram à unidade no último dia 5 de fevereiro e constataram que os leitos permaneciam fechados.
UTI SERÁ REABERTA APÓS OBRAS
Já no Hospital Pedro II, as vistorias foram realizadas nos dias
30 de novembro do ano passado e 5 e 6 de fevereiro de 2018. Em todas as datas,
afirmam os defensores públicos, foi constatada a desativação dos 15 leitos de
UTI por falta de recursos materiais.
A Secretaria municipal de Saúde informou ontem que reativou
15 leitos de UTI do Hospital Pedro II. Um funcionário do hospital, que prefere
não ser identificado por medo de represálias, afirmou que dez leitos foram
reabertos anteontem, mas ressaltou que outros dez ainda permanecem fechados.
Sobre o Hospital Albert Schweitzer, a Secretaria municipal
de Saúde afirmou que o espaço onde funciona a UTI necessita de “obras de
readequações e intervenções estruturais", para as quais estão sendo
providenciados recursos.