Clipping - Prefeitura faz menos atendimentos de saúde
Extra / Cidade
20/11/2017
Número de procedimentos cai 8,6% em relação ao ano passado: 3,9 milhões a menos
O drama da carioca centenária é um exemplo da crise na rede
municipal de saúde do Rio. Com R$ 550 milhões do orçamento bloqueados e pelo
menos 120 leitos fechados nos últimos meses por falta de recursos, esse cenário
já se reflete nas estatísticas do desempenho da rede da Secretaria municipal de
Saúde (SMS). Entre janeiro e setembro, foram 3,9 milhões de procedimentos a
menos — entre exames, consultas e cirurgias —, em comparação ao mesmo período
de 2016, segundo dados levantados pelo EXTRA no Datasus, do Ministério da
Saúde.
No total, a secretaria realizou, entre janeiro e setembro
do ano passado, 44,8 milhões de procedimentos. Este ano, nos nove primeiros
meses, foram 40,9 milhões (8,6% a menos). Enquanto isso, segundo estimativas do
IBGE, a população do Rio aumentou de 6,4 milhões para 6,5 milhões (1,5%), de
2016 para 2017. O número de exames realizados foi o item que mais caiu: de 13,1
milhões para 8,8 milhões (32,8% a menos). As consultas recuaram de 20,6 milhões
para 18,8 milhões (8,7% a menos), e as cirurgias passaram de 506 mil para 407
mil no período (queda de 19,56%).
A redução dos procedimentos seria ainda mais drástica não
fossem dois itens que subiram: a quantidade de próteses e similares fornecidas
pela SMS aumentou de 320 mil para 381 mil; e as ações de prevenção em saúde
(atendimentos nas clínicas da família) passaram de 10,2 milhões para 12,4
milhões. Todos esses números, no entanto, ainda poderão ser atualizados pelo
Datasus.
Em outubro, o EXTRA mostrou que 244 mil pacientes
aguardavam consultas, exames ou cirurgias na rede municipal, segundo a
subsecretária de Regulação, Cláudia da Silva Lunardi. O número é,
aproximadamente, 80% maior do que o registrado no fim de 2016, quando 134 mil
pessoas esperavam atendimento.
A greve nas clínicas da família, que já dura três semanas,
por atrasos nos salários, pode piorar esse quadro.
— As clínicas da família têm a função de ser o alicerce da
saúde. Não temos, hoje, condição de tratar uma pneumonia, porque não há
antibióticos. É preciso mandar o paciente para um hospital — diz o presidente
da Associação de Medicina de Família e Comunidade, Moisés Nunes.
A falta de recursos está na origem dos problemas enfrentados
pela rede de saúde da prefeitura. Na semana passada, um relatório do Tribunal
de Contas do Município (TCM) mostrou que a despesa com a pasta caiu 10,77% em
comparação a 2016.
Por trás dos números, pessoas sofrem
No contato com pacientes e seus parentes, os números das
estatísticas se transformam em relatos dramáticos.
— Minha mãe entrou no hospital com um quadro bom, poderia
ser operada, mas disseram que não tinha vaga. E o quadro dela foi piorando. Ela
teve infecção urinária, e, depois de fazer o tratamento, os rins começaram a
parar. Agora, está em estado muito grave — conta Míriam Bragança, de 66 anos,
filha de dona Hilda.
Jorgina Souza, de 73 anos, sente dificuldade de ter acesso
a exames. Ela teve desmaios e também está internada no Rocha Faria. Desde
quinta-feira, aguarda endoscopia, hemograma e eletrocardiograma.
— Os médicos não deram
prazos — diz a filha de Jorgina, Lúcia Helena Guerra.
Já no Hospital Ronaldo Gazolla, o problema é com o aparelho
de colonoscopia. A unidade está com o centro cirúrgico fechado por falta de
material e, por isso, não pode realizar o procedimento. Os salários dos
funcionários também estão atrasados. Os pacientes de 85 clínicas da família da
Zona Norte também estão, desde o dia 13, sem poder fazer exames. O contrato com
a empresa que prestava o serviço foi encerrado, e a prefeitura ainda não
renovou.
A SMS reconhece que há redução na realização de
procedimentos, mas alega fatores como a “baixa demanda” e “a falta de oferta de
algum serviço especializado e de alta complexidade cuja referência são unidades
de outras redes, como federal e universitária”.
RESPOSTAS
AUDITORIA
A SMS afirmou que solicitou à Controladoria auditoria nos 27 contratos com OSs para a gestão de unidades de saúde. E garante que os repasses às OSs são feitos mensalmente.
A SMS afirmou que exames feitos na paciente Hilda quando
ela entrou no Rocha Faria apontaram anemia e infecção urinária, tornando a
cirurgia arriscada. O quadro se estabilizou e ela está apta à cirurgia, mas,
por decisão judicial, será transferida para o Instituto Nacional de
Traumatologia e Ortopedia.