Clipping - Pacientes penam por atendimento no Hospital Municipal Rocha Faria
O Dia / Rio
23/10/2017
Unidade só atendeu
casos mais graves ontem e, no sábado, 58 profissionais faltaram ao plantão
Um dia após 58 funcionários do Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, faltarem ao plantão noturno alegando falta de insumos, medicamentos e atraso de pagamento, o funcionamento da unidade de saúde, referência
na
Zona Oeste da cidade, continuava comprometido. Os pacientes socorridos ontem na
região pelo Corpo de bombeiros e
ambulâncias do serviço SAMU eram levados para outros hospitais, como o Albert
Schweitzer, em Realengo, e Pedro II, em Santa Cruz. Quem procurou a unidade de
Campo Grande por conta própria teve dificuldades em conseguir atendimento. A
gestante Jéssica Gomes Viana, de 27 anos, chegou ao Rocha Faria com fortes
dores abdominais por volta das 5:30 da manhã de ontem, e só conseguiu ser
avaliada por uma médica às 8h40 porque, segundo ela, havia poucos médicos de
plantão.
“Os médicos avisaram que eu tinha que esperar pelo trabalho de parto em casa, mesmo com dor. Uma enfermeira que me deu um analgésico e me liberou. Não estou aguentando de dores”, reclamou a paciente, que está grávida de 39 semanas e 5 dias. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a paciente foi reavaliada às 10h24 e 13h40 pela médica e ficou em observação “supervisionada pela enfermagem”, sendo medicada conforme prescrição médica.
O
pedreiro Carlos César Ferreira, de 60 anos, chegou ao Rocha Faria, às 13h30,
com o braço inchado devido a acidente de trabalho e teve de esperar quase
quatro horas para ser atendido. Ele já havia procurado uma UPA do bairro, mas
foi direcionado para o hospital. “Quando cheguei na UPA disseram que não tinha
ortopedista e que eu deveria procurar o Rocha Faria. Se eu não conseguir aqui,
terei de voltar para casa com dor, pois não tenho dinheiro para procurar outro
hospital”. Segundo pacientes, funcionários faltaram ontem também em protesto
contra a falta de salários e condições de trabalho. A SMS informou apenas que,
visando garantir a assistência dos pacientes internados, o Rocha Faria
priorizou pacientes que chegavam por conta própria e com graves problemas de
saúde. Já os pacientes
com
menor risco foram direcionados para outras unidades da Zona Oeste, informou o
órgão. Segundo a SMS, Carlos César Ferreira recebeu atendimento às 17h20,
passou por exames, foi medicado e liberado às 18h30.
O
presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Leoncio Feitosa, afirmou
que a entidade vai vistoriar os hospitais da rede municipal para verificar a
situação dos atendimentos e o estoque de insumos e medicamentos. “Recebemos a
informação que não havia sequer luvas para fazer a limpeza dos pacientes”.
Ameaça de paralização
A Organização Social (oS) iabas (instituto de atenção Básica e avançada à Saúde), responsável pela gestão do Hospital Municipal rocha Faria, informou que recebeu da Prefeitura do rio, no último dia 20 de outubro, o repasse de um terço dos r$ 15 milhões devidos pela Secretaria Municipal de Saúde desde agosto. A oS explicou que realizou o
pagamento de 50% dos salários dos funcionários, além de fornecedores de insumos e prestadores de serviços essenciais tais como: laboratórios de análises clínicas, esterilização, limpeza e alimentação. a iaBaS lamentou a atual situação da rede municipal e pediu a compreensão dos colaboradores e fornecedores para que não descontinuem os serviços prestados até que a situação dos repasses esteja normalizada.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que segue o
calendário de pagamentos estabelecido pela Secretaria Municipal de Fazenda.
ainda de acordo com a SMS, as duas secretarias trabalham juntas para quitar, o
mais brevemente possível, eventuais atrasos nos pagamentos das oSs. Sobre os
profissionais faltosos, a SMS disse que todo trabalhador contratado com
carteira assinada é passível das sanções previstas na cLt caso falte ao
trabalho sem justificativa. A pasta, no entanto, não informou se algum
profissional será punido por ter faltado aos plantões.
O Sindicato dos Médicos do rio de Janeiro (SinMed) informou
que os profissionais que atuam nas 227 unidades de atenção primária da cidade
irão cruzar os braços na quinta-feira em protesto ao atraso no pagamento, além
da péssimas condições de trabalho e da falta de medicamentos.