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Clipping - ‘O meu pai não é bicho!’

Extra / Cidade

19/10/2017


Marilândia Guimarães peregrina por quatro horas em busca de socorro para o pai, de 88 anos

Após quase quatro horas de peregrinação, Marilândia Guimarães, de 61 anos, conseguiu que o pai, José de Aguiar, de 88 anos, fosse atendido anteontem no Hospital municipal Salgado Filho, no Méier. Das 7h às 11h de ontem, a microempresária percorreu com o idoso, morador de Ricardo de Albuquerque, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do próprio bairro, o Hospital estadual Carlos Chagas, a UPA de Madureira e, por fim, a unidade municipal do Méier, que sofre com a superlotação causada também pelo sucateamento de unidades de saúde estaduais.

O primeiro andar do Salgado Filho, onde se concentram os casos da emergência, traduz em números a situação: com 36 vagas distribuídas entre as salas vermelha e amarela, uma unidade intermediária e a sala de trauma, o primeiro piso abrigava 101 pacientes.

— O meu pai com AVC e eu tive que passar por tudo isso. Gente, cadê o dinheiro dos meus impostos? O meu pai não é bicho! Eu pago imposto, sou uma contribuinte — desabafa Marilândia Guimarães.

Enquanto uma médica reclama da constante falta de material básico, como algodão e luvas, um outro profissional compara a operação do hospital como a de uma unidade de saúde em uma área de conflito:

— Esse paciente não é da área do Salgado Filho, mas o hospital não pode se negar a atender. Os hospitais estaduais estão com condições precárias e o resultado é a superlotação aqui. Apesar de tudo, os pacientes agradecem o atendimento. A operação (no Hospital Salgado Filho) é de guerra, e só acontece pela dedicação dos funcionários.

DEZ EM VAGA PARA 4

Dedicada aos casos mais graves que chegam pela emergência, a sala vermelha do Salgado Filho deveria comportar quatro pacientes, embora dez pessoas ocupassem a área na terça-feira. Na sala amarela, com sete vagas para cada sexo, 21 mulheres ocupam o espaço, enquanto na parte masculina estavam 25 homens. No corredor principal da emergência, outros 18 pacientes se aglomeravam em macas.

56 ITENS FALTANDO

Membro da comissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Rio, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL) realizou na terça-feira visita na unidade. Além da superlotação, a vistoria constatou a falta de 56 itens cujo estoque, na farmácia do Salgado Filho, estão zerados. Entre eles, insumos básicos como agulhas para coletar sangue e fralda descartável.

R$ 4,97 MILHÕES

Em um reflexo da crise do município, a situação do Salgado Filho e de outras unidades deve piorar no próximo ano, caso a proposta orçamentária enviada pelo Poder Executivo seja aprovada, até o dia 15 de dezembro, sem alterações pelo plenário da Câmara. Com orçamento proposto em R$ 4,97 bilhões, o valor disponível voltará ao patamar de 2016 (foram R$ 4,98 bilhões naquele ano). A Lei Orçamentária Anual de 2017 destinou R$ 5,46 bilhões de orçamento para a pasta, mas sofreu com o contingenciamento de R$ 546 milhões realizado pela prefeitura.

Rocha Faria: cenário de guerra

A emergência que costuma ter 90 pacientes internados, ontem, tinha 50

Os profissionais do Hospital municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste, descrevem um cenário de guerra ao relatarem as condições em que trabalham.

— Faltam medicamentos, gaze, esparadrapo, ataduras, vários tipos de fios de sutura, papel higiênico e sabão — enumerou um médico, que pediu anonimato.

Ontem à tarde, um mapa do centro cirúrgico mostrava que nove operações haviam sido programadas. Mas, às 17h, apenas duas tinham sido realizadas, além de outras duas de emergência.


— Muitos profissionais não estão vindo, porque estamos sem salários. Em setembro, recebemos no fim do mês. Por isso, apenas casos graves estão sendo atendidos. A sala amarela está com poucos pacientes — contou um enfermeiro.

Vítimas de acidente de moto, Agatha Rodrigues Barros, de 15 anos, e Nielson de Araújo, de 24, foram atendidos.

— Estou com dor e pedi para imobilizar. O médico disse que eu colocasse uma atadura em casa — contou Agatha.

A OS Iabas, que administra o Rocha Faria, afirmou que o hospital continua prestando atendimento, apesar do atraso de repasses de cerca de R$ 14 milhões por parte da Secretaria municipal de Saúde. A secretaria alega que segue o calendário de repasses da Secretaria de Fazenda e informou que está agendado repasse de R$ 5 milhões para 16 de novembro.