Clipping - Infância acima do peso
O Globo / Sociedade
11/10/2017
Número de crianças e adolescentes obesos é dez vezes maior do que na década de 1970
A obesidade infantil atinge atualmente dez vezes mais crianças e adolescentes do que na década de 1970. Isso significa que o grupo de indivíduos entre 5 e 19 anos que estão acima do peso em todo o mundo saltou de 11 milhões naquela época para 124 milhões. É um contingente de jovens equivalente a quase toda a população do México, estimada em 127 milhões segundo o Banco Mundial, que sofre de uma condição que pode prejudicar a saúde na vida adulta.
O dado foi revelado ontem por um novo estudo liderado pelo
Imperial College de Londres e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), descrito
na revista internacional “The Lancet”. Os pesquisadores compararam dados sobre
o peso de crianças e jovens em 1975 e em 2016. E verificaram que, nessas quatro
décadas, o índice de obesos cresceu de 0,7% para 5,6% entre meninas, e de 0,9%
para 7,8% entre meninos.
Divulgado na véspera do Dia Mundial da Obesidade,
comemorado hoje, o estudo avaliou quase 130 milhões de pessoas de 200 países.
Destas, 31,5 milhões eram indivíduos com idades entre 5 e 19 anos, a faixa
etária que registrou maior avanço no excesso de peso.
— As taxas de obesidade em crianças e adolescentes
continuam a aumentar em países de baixa e média renda, o que é preocupante.
Mais recentemente, esse índice estabilizou em países de renda mais alta, embora
permaneça inaceitavelmente alto — afirmou o autor principal do estudo, Majid
Ezzati, da Escola de Saúde Pública do Imperial College.
No Brasil, 9,4% das meninas e 12,7% dos meninos estão
obesos. Já os países com maiores índices de obesidade infantil são pequenas
ilhas no Pacífico. Isso parece curioso, mas tem fácil explicação: como esses
países têm uma produção agrícola fraca, dependem muito da importação de
alimentos. As crianças ficam mais expostas a comidas industrializadas, que são
mais baratas. Outro fator é que, historicamente, essas etnias tiveram pouco
acesso à comida. Seus organismos foram “programados” para armazenar gordura.
Hoje, com o repentino acesso a refeições calóricas, essas populações têm mais
risco de engordar. Os EUA, onde a alimentação industrializada é muito
difundida, aparecem entre os 15 países com mais jovens obesos.
A endocrinologista Maria
Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e
da Síndrome Metabólica (Abeso), explica que, de forma geral, todos nós somos
geneticamente predispostos ao ganho de peso.
— Isso acontece porque somos descendentes daqueles que
conseguiram sobreviver aos tempos de escassez, décadas e séculos atrás. Só que,
de maneira abrupta, temos agora uma oferta inesperada de alimentos calóricos.
Segundo o relatório, se as tendências dos últimos anos
continuarem, em 2022 haverá no mundo mais crianças e adolescentes com obesidade
do que abaixo do peso. Para o pediatra Hugo Ribeiro Jr., do serviço de
nutrologia infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia,
é praticamente certo esse cenário:
— O ano de 2022 já está na nossa porta. Precisamos
desacelerar e estagnar esse crescimento da obesidade infantil.
Erika Paniago Guedes, diretora do Departamento de Obesidade
da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), destaca a
importância de a família perceber a gravidade dessa condição na infância.
— Muitas vezes, os pais não percebem que o filho está acima do peso. Reforçam a mamadeira com farinha, dão açúcar a bebês, e só procuram ajuda anos mais tarde, quando a reversão do quadro é mais difícil — afirma ela.