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Clipping - Hospital do Fundão pode fechar as portas se não houver repasse

O Globo /

30/07/2017


"A universidade paga nossos funcionários extraquadros, um terço da equipe. Se a reitoria não pagar, vamos fechar" Eduardo Côrtes Diretor do Hospital do Fundão "Sem saber de fato quanto e quando receberemos, fica difícil tomar decisões. Nosso esforço tem sido para evitar o colapso, negociando dívidas" Roberto Gambine Pró-reitor de planejamento e desenvolvimento da UFRJ "Será dramático iniciarmos o próximo ano cobrindo despesas do ano anterior" Orlando Amaral Reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) 

MARCELLO CORRÊA RENATA MARIZ E economia@oglobo.com.br CONTAS QUE NÃO FECHAM

-RIO E BRASÍLIA- Com uma média de quase mil atendimentos por mês, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da UFRJ, depende do dinheiro da universidade para funcionar. Sem os repasses mensais da reitoria, que bancam os salários de um terço dos funcionários, a unidade pode até fechar as portas. A avaliação é do diretor do hospital, Eduardo Côrtes.

Por mês, a reitoria repassa cerca de R$ 1,2 milhão ao HUCFF. O orçamento é para pagar aproximadamente 700 funcionários, entre médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. Segundo Côrtes, o reitor da UFRJ, Roberto Leher, reuniu diretores de unidades para informar que a situação orçamentária da instituição se tornaria crítica nos próximos meses.

- A universidade paga nossos funcionários extraquadros, que não são concursados. Se a reitoria não pagar, aí nós vamos fechar. Se um terço sair, a gente fecha - explica o diretor do hospital, que fica na Ilha do Fundão.

Côrtes destaca que ainda não houve atraso nos repasses, mas lembra que o hospital convive com outros problemas, como falta de pessoal. Hoje, a unidade teria capacidade para internar 320 pacientes, mas apenas 260 leitos estão em operação. Uma ala inteira, com equipamentos de CTI novos em folha, está vazia, à espera de reforço de equipe.

Em outras áreas da UFRJ, também há problemas. Com exceção das bolsas pagas a estudantes de baixa renda, as outras contas estão atrasadas. A instituição ainda está tentando colocar em dia os boletos de abril e maio. No mês passado, a luz chegou a ser cortada. O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da instituição, Roberto Gambine, contou que, na tentativa de preservar as atividades acadêmicas, a universidade já abriu mão de terceirizados para apoio administrativo, reduziu a manutenção de serviços em áreas verdes, aumentou controle do acesso ao restaurante e estuda enxugar a vigilância.

- Num cenário de muita insegurança, sem saber de fato quanto e quando receberemos do que foi aprovado na lei orçamentária, fica difícil tomar decisões. Nosso esforço tem sido evitar o colapso, negociando dívidas, fazendo ajustes - diz Gambine.

Também entrou no corte de despesas a frequência de serviços como poda e capina. E falta dinheiro para investir: a obra da nova residência estudantil está parada e abandonada.

- A situação mais crítica é nos hospitais universitários. Quando voltarem as aulas, vamos ver o impacto em outras áreas. Estamos preocupados - conta Francisco de Assis dos Santos, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ (Sintufrj).

Em nota, a UFRJ informou que tem medidas para economizar, como a campanha "Esta conta é de todos", que tem como objetivo reduzir em 25% a conta de luz, num prazo de 12 meses. Em junho, o fornecimento de energia chegou a ser suspenso em dois prédios da universidade.

MEC PODE LIBERAR RECURSOS A situação se repete em outras instituições. O governo informou que vai honrar 85% do custeio e 60% dos investimento aprovados no orçamento. As cifras, no entanto, são insuficientes, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). A entidade aponta impactos já visíveis nas universidades, como redução de pessoal, menor aquisição de equipamentos, corte de diárias e passagens, dificuldades para pagar contas de água e luz.

Reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Orlando Afonso Valle do Amaral prevê uma "situação dramática" nos últimos meses do ano devido à redução de verbas: - Mesmo se o governo liberasse 100% do orçamento de custeio, já teríamos dificuldade de pagar as contas de setembro em diante. No cenário atual, vamos finalizar contratos de terceirizados e fazer outros ajustes. A única coisa que será priorizada é a assistência estudantil para os alunos de baixa renda.

Na UFG, o orçamento para investimento já foi de R$ 50 milhões por ano. Em 2017, caiu para R$ 17 milhões, dos quais mais de 50% estão contingenciados. A redução levou à paralisação de obras. Há cerca de um mês, foi interrompida a construção de um prédio do curso de Engenharia Mecânica. E outras obras, como o campus em Aparecida de Goiânia, estão em ritmo desacelerado.

Para Amaral, a situação de arrocho levará a um passivo gigantesco em 2018 nas universidades, que poderá inviabilizar o funcionamento: - Será dramático iniciarmos o próximo ano cobrindo despesas do ano anterior.

O MEC sustenta, em nota, que "está trabalhando para aumentar esse limite (de liberação), assim como fez no ano passado, onde, mesmo após o contingenciamento feito pelo governo anterior, conseguiu liberar 100% de custeio para as universidades". A pasta defende que o contingenciamento de 2017 será menor que o do ano passado, o que corresponderá a um aumento de 5,3% no valor disponível, ou R$ 385 milhões.

Em relação aos investimentos, o ministério afirma, ainda, que havia centenas de obras paradas, das quais 22 foram retomadas e concluídas e 25 estão em andamento. O MEC informa na nota que, "desde o início do ano, repassou R$ 4 bilhões em recursos financeiros a instituições federais", incluindo entidades que não são universidades, como o Instituto Nacional de Surdos, Instituto Benjamin Constant e Fundação Joaquim Nabuco.